domingo, 28 de fevereiro de 2016

Uniatismo não é a solução para a Igreja Católica, mas...



...A Rússia continua roubando igrejas!

Na recente e inédita declaração assinada pelo Papa Francisco e o Patriarca Ortodoxo Russo Kirill, lemos sobre as comunidades orientais que, séculos atrás, desistiram do cisma e retornaram ao seio da Igreja Católica:

25.       Esperamos que o nosso encontro possa contribuir também para a reconciliação, onde existirem tensões entre greco-católicos e ortodoxos. Hoje, é claro que o método do “uniatismo” do passado, entendido como a união de uma comunidade à outra separando-a da sua Igreja, não é uma forma que permita restabelecer a unidade. Contudo, as comunidades eclesiais surgidas nestas circunstâncias históricas têm o direito de existir e de empreender tudo o que é necessário para satisfazer as exigências espirituais dos seus fiéis, procurando ao mesmo tempo viver em paz com os seus vizinhos. Ortodoxos e greco-católicos precisam de reconciliar-se e encontrar formas mutuamente aceitáveis de convivência.
O "método" não é mais aceitável. Unir uma comunidade inteira ao Sucessor de Pedro não é mais possível porque "não é uma forma que permita restabelecer a unidade". O texto chega a ser semanticamente confuso.

Contudo, a declaração falhou em repreender a Igreja Ortodoxa Russa de utilizar o governo ou ser utilizada por este para fins questionáveis. Explico, mas antes lemos a seguinte notícia:

 Numa conferência de imprensa em Kiev, Klyment, Arcebispo de Simferopol e Crimeia da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev, anunciou que a côrte de apelação russa na Crimeia decidiu que as propriedades da diocese de Crimeia, do Patriarcado de Kiev, serão alienadas e confiscadas.
O arcebispo explicou que a decisão envolve a Catedral de São Volodymyr e Olha no centro de Simferopol. "Solicitaram que pagássemos meio milhão de rublos ao Ministério da Propriedade e da Terra, em torno de 10 dias e que nos preparássemos para o fato que o prédio seria confiscado porque todas as comunicações, água, energia e aquecimento estão localizados nessa região"
A Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev é uma separação da Igreja Ortodoxa da Ucrânia Patriarcado de Moscou. Como as comunidades ortodoxas se ligam muito mais por laços nacionalistas que religiosos, a independência da Ucrânia da influência da Rússia se reflete também na organização eclesial e dissidências surgiram ao longo da história recente, sendo o Patriarcado de Kiev uma delas.

Durante o regime comunista, os países satélites da extinta URSS tiveram a atividade religiosa rigorosamente controlada. Várias igrejas católicas latinas e orientais, e algumas protestantes, tiveram suas propriedades roubadas pelo estado comunista e, em vários casos, transferidas para a Igreja Ortodoxa Russa sem que esta, mesmo depois da queda da URSS, tenha se desculpado ou "purificado a memória" por esses crimes.

Putin, o presidente da Rússia, vendo que combater a igreja não é uma das estratégias mais inteligentes, resolveu apoderar-se da Igreja Ortodoxa, instrumentalizando essa comunidade como um agente de unificação nacional. Através de isenções fiscais, restituição de propriedades e a promoção de uma mudança cultural, o governo Putin vem fortalecendo a ortodoxia russa como mais um tentáculo na zona de influência que a Rússia tenta impor ao mundo.

Muitos padres católicos orientais e ortodoxos ucranianos foram expulsos da Crimeia e substituídos rapidamente por sacerdotes ortodoxos russos desde o início do conflito na região. Então, não será estranho se em alguns meses descobrirmos que a catedral do bispo Klyment for colocada sob os auspícios do patriarca Kirill.

Se o uniatismo não é mais a solução na busca da unidade (sic!), então por que o assalto a outras comunidades religiosas que se opõem ao governo russo e a sua Igreja Ortodoxa continua válido? Como sempre acontece no ecumenismo, essa é uma via de mão única, onde a Igreja Católica deve ceder sempre.

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