segunda-feira, 21 de julho de 2014

Outras intervenções na Argentina. Mais cabeças rolarão?

Lá vou eu de novo, fazendo análises com a minha tradicional paranoia...

A eleição de um pontífice argentino colocou os bispos do país numa situação muito complicada. Ninguém nega que este país é o que vem sofrendo mais com o novo estilo de gestão adotada pelo Papa Francisco e não poderia ser diferente. Jorge Mario Bergoglio, antes de ser Francisco, foi arcebispo e cardeal da maior e mais importante arquidiocese do país, onde se localiza a sede do governo e da nunciatura apostólica e foi presidente por anos da Conferência Episcopal.

Se no âmbito internacional já possível visualizar alguma mudança de rumo nas nomeações, sobretudo na Cúria Romana e na Conferência Episcopal Italiana, com a instalação de prelados "mais pastorais", o que quer que isso signifique, é na Argentina que isso se nota de forma clara, concreta e violenta. Muitos vaticanistas afirmam que Francisco faz nomeações para seu país natal sem consultar a Congregação para os Bispos ou qualquer outro dicastério, dada a velocidade anormal no processo.

A mão de Bergoglio pode ser sentida de uma forma dupla pairando sobre a cabeça dos bispos e sacerdotes argentinos. De forma carinhosa, ele afaga alguns mais alinhados ao bergoglianismo praticado por anos em Buenos Aires. Foi o caso de Marco Aurelio Poli, hoje cardeal da capital, e de Víctor Manuel Fernández, a quem o então arcebispo Jorge Mario Bergoglio tentou por anos fazer bispo, mas seu nome era sempre rejeitado pelo Vaticano; Francisco o fez arcebispo (titular) em alguns dias depois de eleito Papa.

Mas se aqueles que professam o bergoglianismo estão "sentados à direita do Papa", os que lhe oferecem resistência encontram a sua outra mão - a mão de ferro.

Recentemente se viu a remoção do arcebispo de Rosário, baseada em motivos até o momento tão esdrúxulos e sem o menor cabimento que beiram o ridículo. Agora é a vez de mais duas dioceses - Zárate-Campana e Puerto Iguazu.

Em Zárate-Campana...

A acusação contra o bispo de Zárate-Campana, Dom Oscar Domingo Sarlinga, é a mesma feita ao arcebispo de Rosário - mau uso do dinheiro e abuso de poder. Só que em Zárate-Campana se fala de somas mais vultuosas de pesos, com acusações de desvio de fundos de origem pública destinados às cantinas escolares administradas pela diocese. Outra acusação é a de lavagem de dinheiro (!) no seminário São Pedro e São Paulo.

Contra o bispo de Sarlinga, segundo os periódicos argentinos, pesa a demissão sem justa causa da diretora da Cáritas na diocese, Sra. Silvana Betancourt. Segundo a ex-diretora, a sua demissão se deu por ela se negar a ser "cúmplice de situações indecentes e imorais e fora dos sacramentos da nossa fé que comecei a viver cotidianamente no meu âmbito de trabalho".

Aqui é importante destacar como a Cáritas Argentina parece estar no meio de todos os escândalos envolvendo bispos - o ex-bispo de Merlo-Moreno, então presidente nacional da Cáritas, foi removido por Bento XVI depois de ser flagrado num luxuoso resort no Caribe com uma mulher casada que mais tarde confessou ser sua amante há anos (e o então Cardeal Bergoglio o defendeu com todas as forças! Como Papa deu o título de emérito ao bispo prevaricador); o arcebispo de Rosário, como disse, foi removido por problemas financeiros que foram causados pelo mau uso de dinheiro numa rádio diocesana administrada pelo padre da Cáritas de Rosário. E agora temos também problemas em Zárate-Campana envolvendo de alguma forma a Cáritas. Não seria hora de se investigar a Cáritas? Só uma sugestão...

Em Puerto Iguazu...

A remoção de Dom Marcelo Raúl Martorell, bispo de Puerto Iguazú, é dada como iminente pelos periódicos argentinos.

O crime de dom Marcelo seriam supostos "erros e desvios doutrinais internos", segundo informações do DyN, periódico de notícias argentino reproduzido pelo blog espanhol Secretum Meu Mihi e por vários outros jornais de Buenos Aires. O desvios se dariam no recebimento de alguns jovens no seminário e na ordenação desses jovens ao sacerdócio.

O periódico DyN traz um relato do livro biográfico oficial de Jorge Mario Bergoglio (título: El Jesuita), onde o então cardeal alertava para um controle dos candidatos ao ingresso no seminário, sobretudo porque alguns clérigos escondem no celibato suas perversões prévias. Bergoglio pedia que se fizesse um pente fino nos candidatos para evitar os pervertidos, mas estranhamente não aplicava essa regra ao seu próprio seminário arquidiocesano, com muitos candidatos fugindo escandalizados dessa casa de formação...

Segundo o DyN, foram fontes eclesiásticas internas da própria diocese que afirmaram que os problemas na diocese, e que estão sendo investigados ainda informalmente pelo Vaticano, são de ordem doutrinal. A alusão ao livro de Bergoglio e a insinuação de "pervertidos" no seminário partem do próprio DyN.

Entretanto...

O que o DyN esqueceu de afirmar e que nós, partindo da nossa incessante paranoia, não nos furtamos em observar é que Puerto Iguazu não tem seminário!

Os candidatos à ordem não se formam em Puerto Iguazu, que é uma diocese muito pequena com aproximadamente 200 mil católicos. Os seminaristas de Puerto Iguazu recebem a sua formação no seminário São José da arquidiocese de La Plata.

E quem comanda a arquidiocese de La Plata é dom Héctor Rubén Aguer, um dos maiores oponentes de Bergoglio dentro da Argentina e um nome que vem circulando ha meses como um candidato a receber a mão e ferro de Francisco. Já falamos disso neste blog, quando abordamos "paranoicamente", é claro, a situação e a remoção do arcebispo de Rosário.

Se o problema está realmente nos candidatos e nos neo-sacerdotes ordenados por Dom Marcelo Raúl Martorell, nada mais natural do que investigar o seminário, afinal de contas é dever dos formadores perceber os desvios e a inaptidão dos candidatos.

O seminário São José oferece formação mais, digamos, conservadora do que outras casas de formação na Argentina. Para se ter uma ideia, a diocese de Gregorio de Laferrere, que faz parte da província metropolitana de Buenos Aires e fica a poucos km da capital, envia seus seminaristas para estudarem em La Plata. Puerto Iguazu fica a 1396 km de La Plata.

Pelo que pesquisei, não encontrei nenhuma notícia ou relato sobre padres pedófilos na diocese de Puerto Iguazu, portanto não creio que a diocese seja afetada por pervertidos. Mas é bom lembrar que 2% do clero é composto por pedófilos, segundo o Papa, então todo cuidado é pouco!

Dom Marcelo Raúl Martorell, entretanto, faz parte daqueles bispos nomeados sem o beneplácito de Jorge Mario Bergoglio, que inclui o próprio Dom Héctor Aguer e o já removido José Luis Mollaghan. Esses bispos foram nomeados pelo Núncio da época, Dom Adriano Bernardini, e pela Secretaria de Estado, então comandada por Sodano. Eram e são bispos de linha claramente conservadora, que agora são caçados.

Então...

A cada nova notícia vemos ser fiável aquilo que os vaticanistas, mesmo aqueles mais entusiasmados com esse pontificado, vem constatando e que se traduz muito bem pelo título dado a um recente artigo de Tosatti ao jornal La Stampa - Aberta a temporada de caça aos conservadores. Alguns blogueiros brasileiros podem achar Tosatti um paranoico e, além dos vários anos e da seriedade do jornalista, podem considerá-lo um mau comentarista.

O caso que mais chama a atenção aqui não é de Zárate-Campana, que se trata apenas de problemas administrativos, mas o de Puerto Iguazu. A diocese de Puerto Iguazu faz divisa com a cidade paraguaia de Ciudad del Este que, a partir de hoje, encontra-se oficialmente em visitação apostólica por dois prelados enviados especialmente por Francisco para investigar o seminário diocesano que mais vocações tem na América do Sul, proporcionalmente falando. Alie-se a isso a intervenção direta aos Franciscanos e Franciscanas da Imaculada.

Parece que hoje a fofoca dentro da Igreja - aquela que Francisco condenou de forma tão categórica nos primeiros meses do pontificado - ganhou alguma cidadania e se transformou em "instrumentum laboris" do Vaticano franciscano. Tudo vem sendo feito de forma oficiosa, nas sombras, com acusações anônimas e informais levadas a consequências reais.

O que vemos - e somos obrigados a comentar - são bispos e padres conservadores caindo como moscas. Outros tantos, que despontavam publicamente na época de Bento XVI, se encolhem e rogam aos céus para que passem despercebidos. Bispos, padres e religiosos, que até fevereiro de 2013 escreviam publicamente sobre tudo, colocando-se contra a heterodoxia e a favor da ortodoxia, hoje são mais comedidos, falam e escrevem menos, muito menos. Alguns até pararam de escrever ou falar.

Com alguns Francisco beija as mãos ou acaricia as bochechas, para outros, entretanto, o pontífice se reserva o direito a dar umas boas palmadas. É a Igreja da Misericórdia!

Um comentário:

Renato disse...

Agora a pergunta básica:

Sabendo-se quem é o tal Francisco, por que vocês católicos conservadores ainda o chamam de Papa?

Esse homem é inimigo ferrenho da Madre Igreja, então vamos combate-lo.

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