domingo, 8 de junho de 2014

Um Papa de Clergyman? Papa Francisco abandona a batina na missa de Pentecostes

No pescoço apenas um colar romano, sem o sinal da batina envolvida pelo amito

Ao longo da história recente da liturgia latina algumas mudanças foram introduzidas de forma descompromissada e sutil. O "clergyman" apareceu no universo católico ainda na década de 40, sem a chancela oficial da Igreja, que determinava que todos os clérigos deveriam usar a batina e os religiosos o seu hábito.O clergyman era usado por uma minoria de padres "avant-garde" até que seu uso foi se disseminando entre o clero; hoje, contudo, é difícil encontrar um padre que use o clergyman, pois a maioria prefere manga de camisa ou até mesmo camiseta, algumas coladas ao corpo e de gosto duvidoso.

As regras do guarda-roupa pontifício são menos flexíveis e mais difíceis de serem atualizadas e a figura do Papa ficou protegida das inovações. Sobretudo porque a batina ainda é, pelo menos ma teoria, o vestuário ordinário do clero e seria muito incoerente o Papa contradizer a própria lei que emana da Sé Petrina. A batina totalmente branca é um simbolo do Papado.

Na missa de Pentecostes de hoje o Papa Francisco decidiu não usar a batina por baixo das vestimentas litúrgicas. Mais uma vez o Papa argentino escolhe romper com alguma tradição católica.

Aqui não estou protestando. Já me dei por vencido com o Papa Francisco e sei que cada pequeno costume, cada pequena tradição será flexionada pelo atual Bispo de Roma.

A manga da camisa seguida imediatamente pela
 alva denuncia a ausência da batina.
As desculpas - daquela "galerinha animada" de sempre - serão muitas. Já apontam o calor romano como fator determinante, afinal o Papa é um ancião e não é saudável ficar sob camadas e mais camadas de vestimentas. Dirão ainda que não é nada para se preocupar, que o caráter sagrado e belo da liturgia está a salvo com Francisco, que nada foi perdido ou que nenhuma norma foi burlada.

Aqui é preciso prestar atenção às sutilezas. Em primeiro lugar, basta lembrar que Bento XVI e até João Paulo II, na casa dos +80 anos, um com artrite e o outro com parkinson, nunca deixaram de usar a batina branca durante as celebrações litúrgicas, na Europa ou na África, no inverno ou no verão. Em segundo lugar, as mudanças mais radicais na Igreja começaram com pequenas negligências aqui e ali, pequenas indulgências com esta ou aquela prática.

Qual o impacto de um Papa sem batina? Numa Igreja partida ao meio pela hermenêutica da ruptura, onde cotidianamente a sua disciplina são e seus dogmas questionados, onde nada de sagrado parece ter mais importância, o impacto de um Papa sem batina é paradoxalmente enorme e insignificante.

Em menos de um ano o Papa Francisco teve um impacto de uma bomba atômica dentro do universo litúrgico. Os movimentos ligados ao novo movimento litúrgico iniciado por Bento XVI - e aqui incluo os blogs e sites especializados - desapareceram ou estão ignorando o atual pontífice. Vários avanços concretos na compreensão da liturgia em continuidade com toda a história da Igreja foram solapados. Tenham certeza que nada disso é acidental.

Um Papa de clergyman é a concretização de um processo, onde nem mesmo o Bispo de Roma, como gosta de ser chamado, escapa da banalização a qual o clero moderno foi submetido.

Alguns poderão dizer, novamente, que foi só desta vez, que o motivo foi poupar Francisco do calor (30ºC hoje em Roma) e do desgaste. Aqui repito - as mudanças mais radicais na Igreja começaram com pequenas negligências aqui e ali, pequenas indulgências com esta ou aquela prática.

Abaixo uma foto do Papa João Paulo II, já fragilizado pela doença, em visita ao Brasil (onde faz um pouquinho de calor, como vocês podem imaginar...). Podemos ver claramente a manga da camisa, a manga da batina e só depois as vestes litúrgicas, conforme as rubricas. Para você, caro leitor, isso pode significar absolutamente nada, mas para quem sabe "ler os sinais dos tempos", é muita coisa.


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10 comentários:

Bruno Luís Santana disse...

No dia que esse pontificado chegar ao fim, não saberei esconder a minha alegria. Vou tentar me policiar, mas será felicidade demais, porque às vezes me pergunto até onde vai meu limite de tolerância em relação a este papa.É impressionante como, a cada dia que passa eu o desprezo. Não deveria desprezá-lo, deveria rezar por ele e ser compreensivo. Só que meu coração não consegue concordar com meu cérebro. Às vezes estou de passagem por aí, e quando aparece na TV a imagem do atual papa, juro que me desvio para não ter que ouvir a notícia. Na verdade não aguento nem vê-lo..

Anônimo disse...

Dois frutos maravilhosos do pontificado do Papa Francisco: o aumento das fileiras tradicionalistas e a plena comunhão encurralada entre a auto-honestidade e a desmoralização.

Pedro Pelogia

PS: o L. A. não aparece em postagens como esta...

Anônimo disse...

Esse Papa só pode ser um castigo de Deus... SALVAI-NOS Senhor!

Giuliano Cabral do Espírito Santo Beraldo disse...

Já é a segunda ocasião que o Santo Padre não faz o uso da batina, na Terra Santa semanas atrás também não utilizou-a. Coitado, o Papa já está um pouco debilitado e cansado! Adoro a utilização da batina, e sei como a utilização dela junto com os demais paramentos faz com que o suor aumente constantemente... É melhor que utilize a camisa clerical, pois é mais refrescante para o Sumo Pontífice

Anônimo disse...

Não sou católico e talvez não entenda perfeitamente. Mas vocês estão discutindo o fato do Papa nao estar usando uma peça a mais de roupa? É isso mesmo ?

Danilo disse...

Sim e não. Sim, é uma peça a mais de roupa, mas não é só isso.
A batina, que é a "roupa" normal do sacerdote - ou pelo menos deveria ser - tem um significado além daquele que eminentemente salta aos olhos.
A batina representa o sacerdote configurado a Cristo, morto para o mundo e vivo apenas para Cristo. O sacerdote não precisa se preocupar com as modas do mundo, pois veste o "hábito" da Igreja. A batina também representa a morte do homem para o mundo (preta), a fidelidade à Igreja (batina violácea dos bispos) ou o martírio que um prelado assume sofrer por Cristo (batina vermelha dos cardeais).
Até o século XVI a batina do Papa era vermelha. São Pio V, que era dominicano, preferiu manter a cor branca que vinha do hábito daquela ordem religiosa.

O uso do clergyman - aquela camisa com apenas o colarinho romano - é de origem protestante. Ela representa a teologia protestante da não diferenciação entre o ministro (pastor-padre) do restante do povo cristão. Para a doutrina católica há uma diferença entre o padre/bispo e o leigo, que é o sacramento da ordem, para o protestante não.

O clergyman, dentro da história católica, é parte da triste secularização do clero. Ele também, portanto, tem um significado superior ao de uma simples "roupa". Nesta triste crise da Igreja, onde os padres não querem mais ser vistos como padres, o clergyman prestou grande contribuição. E agora vemos, pela primeira vez na história, um Papa que abandona sua batina - ainda que temporariamente - para usar uma "roupa" que simboliza o contrário do que a Igreja acredita.
O uso do clergyman foi permitido pela Igreja porque esta se viu incapaz de reintroduzir na cabeça do clero a doutrina tradicional do sacerdócio. Por isso, caro anônimo, certamente você dificilmente verá um padre de batina na sua diocese. Muitas vezes você encontra um padre no supermercado e nem mesmo sabe que é um sacerdote.

Anônimo disse...

Sou católico praticante e não acredito que esta quebra de "protocolo" signifique alguma coisa.
Não são esses detalhes que fazem a Igreja. Esses detalhes nao acrescentam em nada em nossa missão.
Nossos passos tem que ser em direção a Deus,em direção as liçoes que a Igreja recebeu de Cristo.
Ele, o maior de todos os homens, pregava com as mais simples roupas.
Precisamos, como Igreja, deixar de ser tao apegados a rotulos, a tradicoes que soh servem como tradicoes mesmo. Precisamos nos concentrar no amor, na valorizacao da familia, de pai, de mae, na valorizacao do matrimonio e dos outros sacramentos, enfim, seguirmos o verdadeiro caminho do Pai.

Danilo disse...

Anônimo, eu só fiquei um pouco confuso quando você afirmou que é "católico praticante". Valorizamos todos os sacramentos, é justamente por isso que escrevemos o conteúdo desta postagem...valorizar o sacramento da ordem. Mas acho que isso é um pouco estranho para os "praticantes".
Como alguém que tem parte no Santo Sacerdócio de Cristo, o sacerdote deve ser exemplo da humildade, da obediência e da abnegação do Salvador. A batina o ajuda a praticar a pobreza, a humildade no vestiário, a obediência à disciplina da Igreja e o desprezo das coisas do mundo. Vestindo a batina, dificilmente se esquecerá o sacerdote de seu importante papel e sua missão sagrada ou confundirá seu traje e sua vida com a do mundo. (http://goo.gl/BnLkRj)

Bruno Luís Santana disse...

Anônimo, a Sabedoria Divina, por ter criado o homem como um ser composto simultaneamente de matéria e espírito, sempre levou em consideração estas duas realidades, exatamente para que o homem entendesse as coisas de maneira completa. Veja por exemplo todos os Sacramentos da Igreja; todos eles têm matéria e forma; o batismo só existe se, além das palavras (eu te batizo em Nome do Pai, Filho e Espírito Santo) for incluida a MATÉRIA àgua; Sem a matéria HÓSTIA, a transubstanciação não existe, e não há Eucaristia, e por aí vai.
NADA na Igreja existe a toa, nada foi posto de maneira superflua ou vaidosa, a troco de nada. Os inimigos da religião foram os primeiros a fazer exatamente o que você propõe: com o objetivo de matar o vínculo dos fiéis com a Igreja, passaram a proibir seus símbolos, porque a forma de introduzir a ignorância entre os católicos passa pelo abandono de suas formas materiais; por causa disso é historicamente comprovado que nos períodos revolucionários os padres e as freiras sempre foram tolerados, desde que se despojassem de suas insígnias. No México a sanha homicida só se abatia entre os padres que desobedecessem as ordens governamentais e permaneceram em um primeiro momento usando a batina.
Outra coisa: o símbolo tem profundo significado; sabe qual é o motivo pelo qual as missas tridentinas encontram um terreno tão difícil para serem implantadas, e são toleradas com extrema dificuldade? É um motivo simbólico também. Não é preciso nenhum padre demasiado arraigado ao passado, e nem sequer leigos tradicionalistas para preocupar os bispos e por isso levá-los a proibir na medida do possível esta missa: a liturgia tradicional, seus paramentos, sua orientação de frente para o crucifixo, em que o padre "dá as costas" aos fiéis e orienta-se a Deus é carregada por si só de simbologia, e sua simples existência é uma condenação velada a tudo o que se faz na Igreja de hoje.
E os que amam a igreja moderna, e detestam a Igreja como a mesma sempre foi são os primeiros a ter náuseas só de conceber um padre corretamente paramentado diante de um altar preso na parede, voltado para uma cruz e atualizando o Santo Sacrifício de maneira grave e solene.
Como o Danilo já expôs acima: não é a batina pela batina. E é como eu havia dito também: não há nada na vida da Igreja que esteja a toa. Tudo tem um significado, tudo tem uma razão espiritual de ser, desde os 33 botões de uma batina até os três degraus que se sobem até o altar. Para um ignorante não passa de uma roupagem, uma ninharia, algo banal. Mas não existem banalidades na Igreja, ao contrário dos gnósticos que desprezavam a matéria, nós reconhecemos que o espírito é melhor, mas a matéria também é boa, porque criada por Deus, embora inferior. Finalizo: foi exatamente por esse pretexto - o de ficar só com o "essencial" e se desprezar o "superfluo" que a Igreja está imersa em sua mais aguda crise. Ele é o papa, mas põe o amor à quebra de protocolo acima do seu próprio ofício, e essa receita NÃO FUNCIONA. Estas meas-culpas, estas exibições de despojamento, de ser "legal" e "moderno" para ficar bem com o mundo foram implantadas nas últimas cinco décadas, e paradoxalmente, até o início da década de 60, quando a Igreja era "dura", "dogmática", "sisuda" e "aferrada às tradições", em todo o mundo se registravam progressos - AUMENTOS de vocações para os sacerdotes, para os religiosos, aumento no número de batismos, aumento de convertidos de outras religiões para o catolicismo. Procure na Internet as estatísticas e veja o que aconteceu quando resolveram fazer as pazes com o mundo, quando se resolveu ficar com o que chamavam "essencial"... A Igreja encolhe e está imersa numa confusão onde duas paróquias não ensinam a mesma doutrina...

Anônimo disse...

Compartilho da sua angústia, Bruno. Quando foi eleito procurei dar uma chance, aguardar, talvez seria tão ruim só na minha cabeça. Porém a cada gesto aumenta minha decepção.
Sou fiel ao papa, disso não há dúvida, mas isso não me obriga a gostar dele. Que Nossa Senhora interceda por todos nós!

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