quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Müller - Conferências Episcopais não estão entre o Papa e os Bispos



Transcrevemos abaixo um trecho da entrevista concedida por Dom Gerhard Ludwig Müller, prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, à agência alemã KNA.

KNA - Se entendi corretamente o que disse o Papa Francisco, ele deseja que as conferências nacionais dos bispos tenham mais responsabilidade - também em assuntos controversos - e as autoridades romanas devem funcionar de uma forma mais subsidiária, como prestadores de serviço. Isso afetará a CDF?
Müller - A CDF é responsável por todo o mundo no interesse do Magistério papal. Os bispos conduzem as Igrejas locais. O papado e o episcopado são legitimados pela lei divina. Isso é algo que as conferências episcopais não são. São grupos de trabalho, mas não têm competência para ensinar por conta própria acima do mandato de um bispo individual. Assim, eles não são uma terceira autoridade entre o Papa e os bispos. Eu não acho, portanto, que nós vamos ver uma espécie de reforma federalista semelhante à da República Federal [da Alemanha], onde as competências essenciais são retransmitidas do Estado central para os estados individuais. Não é assim que a Igreja é constituída. De acordo com o ensinamento do Concílio Vaticano II, a Igreja consiste em e das Igrejas locais.

Vale lembrar o que disse o Papa Francisco na sua primeira entrevista "bombástica":

(...). É impressionante ver as denúncias de falta de ortodoxia que chegam a Roma. Creio que os casos devem ser estudados pelas Conferências Episcopais locais, às quais pode chegar uma válida ajuda de Roma. De fato, os casos tratam-se melhor no local. Os dicastérios romanos são mediadores, nem intermediários nem gestores".
Aqui vemos uma diferença nas posições. Para Francisco, à Cúria cabe apenas uma função auxiliar e coadjuvante; já Müller enxerga a necessidade da atuação da CDF e a incompetência de origem da Conferência Episcopal.

A função de zelar pela ortodoxia é, primeiramente, do bispo local. Há casos onde o problema ultrapassa a jurisdição de uma diocese, afetando um continente inteiro. Um exemplo desse problema é a própria Teologia da Libertação. Como a CNBB lidaria com ela se tivesse competência para tal? De fato, pela forma como muitos bispos brasileiros se comportam, em total subserviência à CNBB, mesmo quando discordam dela, há na conferência uma autoridade prática.

Francisco me obriga a concordar com Müller - vejam só!

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