sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cresce o nome de Piacenza?

O lobby anti-Bertone e o possível novo secretário de Estado
O homem que está pronto para assumir o posto do cardeal Tarcisio Bertone como secretário de Estado tem sua escrivaninha na Praça Pio XII, nº. 3, praticamente em frente à Praça de São Pedro. Ele não move um dedo, não faz complôs. Está ali e se apresenta como um fidelíssimo do Papa Ratzinger, doutrinalmente seguro à prova de bombas e além disso... eficiente. Chama-se Mauro Piacenza (foto), prefeito da Congregação para o Clero.

A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 16-02-2012. A tradução é deMoisés Sbardelotto.

Uma grande órgão do porte da Santa Igreja Romana, que reúne mais de um bilhão de fiéis, é uma estrutura que, como todas, segue o seu instinto de sobrevivência. Nas crises, se manifesta sempre um núcleo duro de "servidores da instituição", que se põem o problema da alternativa. De quem colocar no timão, se, no painel de comando, forem verificadas disfunções. Diante da evidente crise da gestão Bertone, muitos olham para o cardeal Piacenza.

Se Bento XVI – com alguns pensamentos voltados para os venenos na Cúria – também afirma, na audiência geral, que "Jesus pede ao Pai que perdoe aqueles que o estão crucificando e nos convida ao difícil gesto de rezar até por aqueles que nos fazem mal, nos prejudicaram, sabendo perdoar sempre", no Vaticano, muitos se perguntam por quanto tempo ainda será possível seguir em frente assim.

Bertone completará 78 anos neste ano, a idade em que o seu antecessor, Angelo Sodano, deixou a liderança da Secretaria de Estado. Se um pontífice é permitido a envelhecer e avançar na casa dos 80 anos (Ratzinger completa 85 em poucas semanas), um secretário de Estado tem o dever de não ser muito idoso e de manter a sua energia juvenil. Piacenza tem a idade certa para os gostos curiais: 67 anos.

Nascido em Gênova, ele faz parte daquele time da Ligúria, que nos últimos anos, abriu cada vez mais espaço na cúpula da Santa Sé e da Igreja italiana: do vice-ministro das Relações Exteriores vaticano, Mons. Ettore Balestrero, ao recém-nomeado patriarca de Veneza, Dom Francesco Moraglia. Piacenza, com João Paulo II, foi presidente daPontifícia Comissão para os Bens Culturais e da Comissão de Arqueologia Sacra.

Mas o percurso de carreira que o aproxima de Bento XVI foi o realizado na influente Congregação para o Clero. Nomeado subsecretário do "ministério dos padres" em março de 2000, ele deu um salto à frente em maio de 2007. Por quê?

Acontece que, nem sete meses antes, Bento XVI nomeou prefeito da Congregação para o Clero o cardeal brasileiroCláudio Hummes. O purpurado veio da arquidiocese de São Paulo, com uma grande e forte experiência pastoral. O mundo católico espera dele uma abordagem nova no combate à profunda crise do clero. E Hummes partiu cheio de entusiasmo. Antes de embarcar no aeroporto em São Paulo, declara à imprensa que o celibato não é um dogma. Ele nem sequer tem tempo de aterrissar em Roma e já tem que desmentir oficialmente (com um comunicado humilhante) qualquer intenção de inovação. Piacenza, nomeado seu braço direito, praticamente desenvolverá o papel de comissário.

Hummes emudece. Depois de apenas quatro anos, o cardeal brasileiro abandona a Congregação para o Clero, com um Bento XVI excessivamente solícito para acolher a sua renúncia por ter atingido os 75 anos de idade.

No dia 7 outubro de 2010, o Papa Ratzinger nomeia Piacenza para a presidência da Congregação e, no dia 20 de outubro, impõe-lhe o barrete cardinalício. Uma carreira relâmpago. Agrada a Bento XVI a extrema ortodoxia doutrinária de Piacenza, unida à capacidade de organização, assim como agrada ao papa a sua posição de acusação contra o mundo moderno, a sua defesa do modelo sacerdotal assim como é, sem sombra de tentações reformistas. Em uma publicação recente, o cardeal Piacenza reapresentou o padre como "testemunha do Absoluto" e falou de ataques contra o celibato eclesiástico como provenientes de "contextos e mentalidade completamente alheios à fé (...) muitas vezes coordenados nos tempos e nos modos por comandos nem mesmo muito ocultos, que visam ao progressivo enfraquecimento"de um dos elementos mais eficazes do testemunho da Igreja. Essa é a tese mais de moda na Cúria ratzingeriana, a ideia de uma conspiração contra a Igreja.

Entre 2009 e 2010, quando Bento XVI convocou o Ano Sacerdotal, Piacenza fez com que não fosse organizado um único momento de reflexão vaticano sobre os efeitos práticos da crise das vocações e sobre como enfrentar estruturalmente o problema das paróquias sem liderança.

Nestas horas, a estrela de Piacenza está crescendo, assim como Bento XVI, pela primeira vez, está em um sério conflito com o cardeal Bertone. O Papa Ratzinger não lhe perdoa por ter freado a política de absoluta transparência internacional do IOR [o chamado "Banco do Vaticano"] buscada por Gotti Tedeschi e pelo cardeal Nicora. E não lhe perdoa por ter exposto a Santa Sé – com a caçada a Viganò – à suspeita de tolerar negócios de corrupção nos contratos das obras vaticanas. É muito para um pontífice alemão, embora lento para decidir.

***
O nome de Bertone vem sendo usado - com justiça ou não - para atacar a Igreja e prejudicar o papado de Bento XVI. Os progressistas, que frequentemente acusam os tradicionalistas ou conservadores de viverem num mundo de "teorias da conspiração", forjam a sua própria com o único intuito de propor candidatos ao trono de Pedro.
Nas últimas semanas falou-se de absolutamente tudo, de corrupção à renúncia de Bento XVI. Tudo foi falado com a mais absoluta confiança dos progressistas úteis que, de algum lugar, parecem tocados por um dom sobrenatural de clarividência.
Qualquer "crise" na administração Vaticana se torna "A" crise do Papa, uma crise causada por sua visão excessivamente conservadora e que não é capaz de responder ao homem ou ao mundo de hoje. E a ladainha continua, com teólogos de renome de Mattew Fox, Küng e cia.
Se Bertone é ou não culpado de uma gestão desastrada, deixemos para que o Papa o decida. 

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