sábado, 24 de setembro de 2011

As reabilitações do Papa Bento XVI

They tried to make me go to rehab
But I said 'no, no, no'
Yes, I've been black, but when I come back
You'll know-know-know
I ain't got the time
And if my daddy thinks I'm fine
He's tried to make me go to rehab
But I won't go-go-go


Um texto de Giacomo Galeazzi, traduzido pelo site Golias IHUnisinos, apresenta o título sinistro "Um herege reabilitado?". Na sua viagem à Alemanha, o Papa Bento XVI fez alguns discursos dentro dos muros do luteranismo, sendo recebido com pompa e circunstância pelos filhos da reforma de Lutero.

A Reforma de Lutero, embora carregue o seu nome, não foi obra exclusiva do monge agostiniano. Ele, revoltado com a teologia cristã resolve se revoltar também contra a ordem estabelecida e contra o papado, símbolo dessa ordem.

Pessoalmente eu me sinto ofendido com o uso da palavra Reforma da Igreja. A Santa Igreja, naturalmente perfeita, não necessita de reformas humanas. Podemos sim reformar ordens, congregações, a Santa Sé, a Cúria, etc, mas a "Igreja" enquanto Corpo de Cristo é impassível de reformas.  A Igreja é sempre renovada, pois em si sopra o Espírito Santo que não permite que essa bimilenar comunidade apostólica perca a sua jovialidade e atualidade.

O que Lutero conseguiu foi uma revolta e uma apostasia. Revoltou-se contra a Igreja e espalhou seus erros por todo o mundo, corrompendo nações inteiras e tirando ovelhas do aprisco. Por séculos a Igreja se esforçou em combater os erros do protestantismo, especialmente as doutrinas luteranas e não se cansou de chamar a atenção dos seus filhos para o perigo de tais doutrinas.

Entretanto, na última viagem do Papa à Alemanha vemos, além dos protestos e críticas estúpidas, palavras que, se não soam exatamente como elogios, são algo próximo. Bento XVI tem uma ligação natural com o Luteranismo e com a teologia luterana, pois nascido na Alemanha, sempre viveu numa realidade bipolar.

A relação católico-luterana nos últimos anos sofreu um sensível desgaste, especialmente depois que a teologia de gênero tomou conta do pensamento luterano, justificando a ordenação de mulheres. Evidentemente o luteranismo não possui sucessão apostólica válida.

"Para Lutero, Deus não era uma questão acadêmica, mas sim uma luta consigo mesmo, enquanto hoje muitos fiéis se esquecem do pecado", afirma Bento XVI.

A concepção da Graça e a própria ideia de Deus de luteranos e católicos, embora guarde traços de um parentesco comum, é muito diferente. A graça e a justificação na teologia luterana são uma corrupção da doutrina católica.

Há tempos se fala da reabilitação de Lutero, especialmente após a eleição de Bento XVI. Embora o Vaticano não tenha (e nem poderia) dar sinais claros sobre uma possível reabilitação do herege alemão, as palavras do Papa certamente não colaboram para deixar o sim, sim e o não, não.

Lutero é um herege e sua teologia é heresia. O ecumenismo com Luteranos não deveria deixar de lado as reservas e licenças que temos sobre isso para que, dotados de uma linguagem educada e politicamente correta, possamos dialogar com nossos irmãos separados.

A música da finada Amy Whinehouse é emblemática. Há alguns hereges perseverantes que não podem ser reabilitados, mesmo com a nossa cega boa vontade. Lutero poderia cantar...


And if the Papa thinks I'm fine
He's tried to make me go to rehab
But I won't go-go-go

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vender o Vaticano?



De vez em quando surgem algumas ideias estapafúrdias que, travestidas de humanitarismo, são na verdade um belo engodo. Uma delas, que parece tomar um novo fôlego recentemente, é a afirmação que se a Igreja Católica vendesse o Vaticano (a cidade Estado, com os prédios anexos que estão no território italiano), o montante seria suficiente para acabar com a fome no mundo. Certamente uma afirmação grave, com um profundo poder emocional.

Muito bem, extinguir a fome é um processo complexo no qual, para espanto de todos, o dinheiro é o menor dos problemas. De fato, dinheiro nem é uma questão para se extinguir a fome no mundo.

Segundo a FAO/Onu, são necessários aproximadamente US$ 40 bilhões de dólares para eliminar a fome da face da Terra. Como vocês veem esse montante não é absurdo e, de fato, algumas empresas multinacionais lucram muito mais que isso por semestre. Só em impostos, até setembro, o Brasil arrecadou US$ 500 bilhões de dólares. Então por que o Vaticano entrou nessa conversa toda?

O slogan bradado aos quatro cantos do planeta, traduzido em quase todos os idiomas e tweetado aos montes, não é outro que não um reflexo da campanha difamatória contra a Igreja Católica que existe desde dos tempos apostólicos. Difamar a Igreja com base num suposto poderio financeiro da Santa Sé é uma prática antiga, usada até mesmo por Lutero na Reforma Alemã e por Lord Cromwell, cabeça (decapitada) da primeira fase da reforma inglesa.

Por que a Igreja Católica? Por que as demais confissões cristãs não gozam de semelhante tratamento injurioso? Se o mundo vos odeia, sabei que me odiou a mim antes que a vós (São João 15,18), afirmou Cristo.

De fato há uma predileção pela Igreja Católica, uma predileção perversa que a conduz num caminho de sofrimento. Só a Igreja Episcopal (Anglicana) dos EUA vale, em termos contábeis, US$ 20 bilhões de dólares; a Igreja Evangélica Luterana da América (ELCA, em inglês) deve valer, pelo seu tamanho semelhante, outros tanto. Por que só a Igreja Católica, que não tem qualquer relação com a fome no mundo, uma vez que ela não é importadora ou exportadora de nada, não participa no comércio internacional, não tem poder decisório nos diversos países, enfim, "não manda nada!", por que somente ela é culpabilizada pela fome global?

Mais adiante, no mesmo Evangelho de João, lemos: Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia. Nada mais verdadeiro e atual.

A Igreja Católica, nadando contra o fluxo perverso da cultura atual, se posiciona contra o aborto, a eutanásia, o divórcio, a cultura gay, etc. e por isso é odiada violentamente pelos protagonistas do mundo em que vivemos. Eles sim - esses que agridem o Corpo Místico de Cristo - são os verdadeiros e os únicos culpados pela fome, pela miséria global.

Vender o Vaticano, despir a Igreja das suas vestes de esposa perfeita e imaculada, humilhando-a sinistramente não resolverá, evidentemente, os problemas globais de fome ou miséria. Mas uma mentira, dita mil vezes, especialmente hoje com a comunicação veloz, torna-se uma verdade dogmática irrefutável. Pobre dos tolos católicos que, tomados por um falso humanitarismo, propagam ideias tão perversas contra a única promotora da verdadeira dignidade humana na sociedade, contra o único lume de esperança.



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Entrevista do Cardeal Piacenza

Mulheres sacerdotisas, Celibato e Poder de Roma

Entrevista com o prefeito da Congregação para o Clero, cardeal Piacenza

Por Antonio Gaspari / Destaques nossos

Cardeal Piacenza após receber
o anel cardinalício
ROMA, terça-feira, 20 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – O cardeal Mauro Piacenza, prefeito da Congregação para o Clero, raramente intervém no debate público. Ele evita, de fato, toda demagogia e presencialismo e é conhecido como homem de incansável e silencioso trabalho e como eficaz observador de todos os fenômenos que afetam a cultura contemporânea.


Extraordinariamente, ele nos concedeu esta entrevista sobre temas “candentes”, em um clima de cordialidade, mostrando essa criatividade pastoral que sempre aparece em um autêntico e fiel pastor da Igreja.

ZENIT: Eminência, com surpreendente periodicidade, há várias décadas, voltam a aparecer no debate público algumas questões eclesiais, sempre as mesmas. A que se deve este fenômeno?

Cardeal Piacenza: Sempre, na história da Igreja, houve movimentos “centrífugos”, que tendem a “normalizar” a excepcionalidade do evento de Cristo e do seu Corpo vivente na história, que é a Igreja. Uma “Igreja normalizada” perderia toda a sua força profética, não diria mais nada ao homem e ao mundo e, de fato, trairia o seu Senhor.

A grande diferença da época contemporânea é doutrinal e midiática. Doutrinalmente, pretende-se justificar o pecado, não confiando na misericórdia, mas deixando-se levar por uma perigosa autonomia que tem o sabor do ateísmo prático; do ponto de vista midiático, nas últimas décadas, as fisiológicas “forças centrífugas” recebem a atenção e a inoportuna amplificação dos meios de comunicação que vivem, de certa maneira, de contrastes.

ZENIT: Deve-se considerar a ordenação sacerdotal das mulheres como uma “questão doutrinal”?

Cardeal Piacenza: Certamente, como todos sabem, a questão já foi tratada por Paulo VI e o Beato João Paulo II, e este, com a carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de 1994, fechou definitivamente a questão.

De fato, afirmou: “Com o fim de afastar toda dúvida sobre uma questão de grande importância, que diz respeito à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar na fé aos irmãos, declaro que a Igreja não tem, de forma alguma, a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que este ditame deve ser considerado como definitivo por todos os fiéis da Igreja”. Alguns, justificando o injustificável, falaram de uma “definitividade relativa” da doutrina até esse momento, mas, francamente, esta tese é tão inusual que carece de qualquer fundamento.

ZENIT: Então, não há lugar para as mulheres na Igreja?

Cardeal Piacenza: Todo o contrário: as mulheres têm um papel importantíssimo no corpo eclesial e poderiam ter outro mais evidente ainda. A Igreja foi fundada por Cristo e não podemos determinar, nós, os homens, o seu perfil; portanto, a constituição hierárquica está ligada ao sacerdócio ministerial, que está reservado aos homens. Mas absolutamente nada impede de valorizar o gênio feminino em papéis que não estão ligados estreitamente ao exercício da ordem sagrada. Quem impediria, por exemplo, que uma grande economista fosse chefe da Administração da Sé Apostólica, ou que uma jornalista competente se tornasse porta-voz da Sala de Imprensa da Santa Sé?

Os exemplos podem se multiplicar em todos os desempenhos não vinculados à ordem sagrada. Há infinidade de tarefas nas quais o gênero feminino poderia realizar uma grande contribuição! Outra coisa é conceber o serviço como um poder e procurar, como o mundo faz, as “cotas” de tal poder. Considero, além disso, que o menosprezo do grande mistério da maternidade, que está sendo realizado nesta cultura dominante, tenha um papel muito importante na desorientação geral que existe com relação à mulher. A ideologia do lucro reduziu e instrumentalizou as mulheres, não reconhecendo a maior contribuição que estas, indiscutivelmente, podem dar à sociedade e ao mundo.

A Igreja, além disso, não é um governo político no qual é justo reivindicar uma representação adequada. A Igreja é outra coisa, a Igreja é o Corpo de Cristo e, nela, cada um é membro segundo o que Cristo estabeleceu. Por outro lado, a Igreja não é uma questão de papéis masculinos ou femininos, mas de papéis que implicam, por vontade divina, a ordenação ou não. Tudo o que um fiel leigo pode fazer, uma fiel leiga também pode fazer. O importante é ter a preparação específica e a idoneidade; ser homem ou mulher não é relevante.

ZENIT: Mas pode existir uma participação real na vida da Igreja, sem atribuições de poder efetivo e de responsabilidade?

Cardeal Piacenza: Quem disse que a participação na Igreja é uma questão de poder? Se fosse assim, cometeriam o grande erro de conceber a própria Igreja não como é, divino-humana, mas simplesmente como uma das muitas associações humanas, talvez a maior e mais nobre, por sua história; e deveria ser “administrada” distribuindo-se o poder.

Nada mais longe da realidade! A hierarquia da Igreja, além de ser de direta instituição divina, deve ser entendida sempre como um serviço à comunhão. Somente um erro, derivado historicamente da experiência das ditaduras, poderia conceber a hierarquia eclesiástica como o exercício de um 'poder absoluto”. Que perguntem isso a quem está chamado a colaborar com a responsabilidade pessoal do Papa pela Igreja universal! São tais e tantas as mediações, consultas, expressões de colegialidade real, que praticamente nenhum ato de governo é fruto de uma vontade única, mas sempre o resultado de um longo caminho, em escuta do Espírito Santo e da preciosa contribuição de muitos.

A colegialidade não é um conceito sociopolítico, mas deriva da comum Eucaristia, do affectusque nasce do alimentar-se do único Pão e do viver da única fé, do estar unidos a Cristo, Caminho, Verdade e Vida. E Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre!

ZENIT: Não é muito o poder que Roma ostenta?

Cardeal Piacenza: Dizer “Roma” significa simplesmente dizer “catolicidade” e “colegialidade”. Roma é a cidade que a providência escolheu como lugar do martírio dos apóstolos Pedro e Paulo e o que a comunhão com esta Igreja significou sempre na história: comunhão com a Igreja universal, unidade, missão e certeza doutrinal. Roma está ao serviço de todas as Igrejas e muitas vezes protege as Igrejas que estão em dificuldade pelos poderes do mundo e por governos que nem sempre são plenamente respeitosos com o imprescindível direito humano e natural que é a liberdade religiosa.

A Igreja deve ser considerada a partir da constituição dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, incluída, obviamente, a nota prévia ao documento. Lá, está descrita a Igreja das origens, a Igreja dos Padres, a Igreja de todos os séculos, que é a nossa Igreja de hoje, sem descontinuidade, a Igreja de Cristo. Roma está chamada a presidir na caridade e na verdade, únicas fontes reais da autêntica paz cristã. A unidade da Igreja não é o compromisso com o mundo e sua mentalidade, mas o resultado, dado por Cristo, da nossa fidelidade à verdade e da caridade que seremos capazes de viver.

Parece-me significativo, a este respeito, o fato de que hoje só a Igreja, como ninguém, defende o homem e sua razão, sua capacidade de conhecer a realidade e entrar em relação com isso; em resumo, o homem em sua integridade. Roma está a pleno serviço da Igreja de Deus que está no mundo e que é uma “janela aberta” ao mundo, janela que dá voz a todos os que não a têm, que convida todos a uma contínua conversão e, por isso, contribui – muitas vezes no silêncio e com o sofrimento, pagando às vezes com sua impopularidade – para a construção de um mundo melhor, para a civilização do amor.

ZENIT: Este papel de Roma não obstaculiza a unidade e o ecumenismo?

Cardeal Piacenza: O ecumenismo é uma prioridade na vida da Igreja e uma exigência absoluta que provém da própria oração do Senhor: “Ut unum sint”, que se converte, para todo cristão, em um “mandamento da unidade”. Na oração sincera e no espírito de contínua conversão interior, na fidelidade à própria identidade e na comum tensão da perfeita caridade dada por Deus, é necessário comprometer-se com convicção para que não haja contratempos no caminho do movimento ecumênico.

O mundo precisa da nossa unidade; portanto, é urgente continuar comprometendo-nos no diálogo da fé com todos os irmãos cristãos, para que Cristo seja o fermento da nossa sociedade. E também é urgente comprometer-se com os não-cristãos, isto é, no diálogo intercultural, para contribuir unidos para construir um mundo melhor, colaborando nas obras de bem e para que uma sociedade nova e mais humana seja possível. Roma, também nesta terra, tem um papel de propulsão único. Não há tempo para nos dividirmos: o tempo e as energias devem ser empregados para unir-nos.

ZENIT: Nesta Igreja, quem são e que papel têm os sacerdotes de hoje?

Cardeal Piacenza: Não são nem assistentes sociais nem funcionários de Deus! A crise de identidade é especialmente aguda nos contextos mais secularizados, nos quais parece que não existe lugar para Deus. Os sacerdotes, no entanto, são os de sempre: são o que Cristo quis que fossem! A identidade sacerdotal é cristocêntrica e, portanto, eucarística.

Cristocêntrica porque, como o Santo Padre recordou tantas vezes, no sacerdócio ministerial, “Cristo nos atrai dentro de Si”, envolvendo-se conosco e envolvendo-nos na sua própria existência. Tal atração “real” acontece sacramentalmente – portanto, de maneira objetiva e insuperável –, na Eucaristia, da qual os sacerdotes são ministros, isto é, servos e instrumentos eficazes.

ZENIT: É tão insuperável a lei sobre o celibato? Realmente não pode ser mudada?

Cardeal Piacenza: Não se trata de uma simples lei! A lei é consequência de uma realidade muito alta, que acontece somente na relação vital com Cristo. Jesus diz: “Quem tiver ouvidos, que ouça”. O sagrado celibato não se supera nunca, é sempre novo, no sentido de que, através disso, a vida dos sacerdotes se “renova”, porque se dá sempre em uma fidelidade que tem em Deus sua raiz e no florescer da liberdade humana, o próprio fruto.

O verdadeiro drama está na incapacidade contemporânea de realizar as escolhas definitivas, na dramática redução da liberdade humana, que se converteu em algo tão frágil, que não busca o bem nem sequer quando este é reconhecido e intuído como possibilidade para a própria existência. O celibato não é o problema; e as infidelidades e fraqueza dos sacerdotes não podem constituir um critério de juízo.

No demais, as estatísticas nos dizem que mais de 40% dos casamentos fracassam. Entre os sacerdotes, estamos em menos de 2%. Portanto, a solução não está, de forma alguma, na opcionalidade do sagrado celibato. Não será talvez questão de deixar de interpretar a liberdade como “ausência de vínculos” e de definitividade, e começar a redescobrir que, na definitividade do dom ao outro e a Deus consiste a verdadeira realização e felicidade humanas?

ZENIT: E as vocações? Não aumentariam, se abolissem o celibato?

Cardeal Piacenza: Não! As confissões cristãs nas quais, não existindo o sacerdócio ordenado, não existe a doutrina e a disciplina do celibato, encontram-se em um estado de profunda crise com relação às “vocações” de guia da comunidade – da mesma maneira que existem crises do sacramento do matrimônio uno e indissolúvel.

A crise da qual, na verdade, se está saindo lentamente, está ligada, fundamentalmente, à crise da fé no Ocidente. O que é preciso é comprometer-se a fazer a fé crescer. Este é o ponto. Nos mesmos ambientes, está em crise a santificação das festas, está em crise a confissão, está em crise o casamento etc. O secularismo e a conseguinte perda do sentido do sagrado, da fé e da sua prática, determinaram e determinam também uma importante diminuição do número dos candidatos ao sacerdócio.

A estas razões teológicas e eclesiais acrescentam-se algumas de caráter sociológico: a primeira de todas é a notável diminuição da natalidade, com a conseguinte diminuição dos jovens e das jovens vocações. Também este é um fator que não pode ser ignorado. Tudo está relacionado. Às vezes, estabelecem-se premissas e depois não se quer aceitar as consequências, mas estas são inevitáveis.

O primeiro e irrenunciável remédio para a diminuição das vocações foi sugerido pelo próprio Jesus: “Orai, portanto, ao dono da messe, para que envie operários para a sua messe” (Mt 9, 38). Este é o realismo da pastoral das vocações. A oração pelas vocações – uma intensa, universal, dilatada rede de oração e de adoração eucarística, que envolva todo mundo – é a verdadeira e única resposta possível para a crise da resposta às vocações. Onde esse comportamento orante é vivido de forma estabelecida, pode-se afirmar que se leva a cabo uma recuperação real.

É fundamental, além disso, prestar atenção à identidade e especificidade na vida eclesial, de sacerdotes, religiosos – estes na peculiaridade dos carismas fundacionais dos próprios institutos de pertença – e fiéis leigos, para que cada um possa, na verdade e na liberdade, compreender e acolher a vocação que Deus pensou para ele. Mas cada um deve ser autêntico e cada dia deve se comprometer em tornar-se o que é.

ZENIT: Eminência, neste momento histórico, se o senhor tivesse que resumir a situação geral, o que diria?

Cardeal Piacenza: Nosso programa não pode ser influenciado por querer estar por cima a todo custo, de querer sentir-nos aplaudidos pela opinião pública: nós devemos somente servir, por amor e com amor, o nosso Deus no nosso próximo, seja ele quem for, conscientes de que o Salvador é somente Jesus. Nós devemos deixá-lo passar, deixá-lo agir através das nossas pobres pessoas e do nosso compromisso cotidiano. Devemos colocar o que é “nosso”, mas também o que é “seu”. Nós, diante das situações aparentemente mais desastrosas, não devemos nos assustar. O Senhor, na barca de Pedro, parecia dormir, parecia! Devemos agir com energia, como se tudo dependesse de nós, mas com a paz de quem sabe que tudo depende do Senhor.

Portanto, devemos recordar que o nome do amor, no tempo, é “fidelidade”! O crente sabe que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, e não é “um” caminho, “uma” verdade, “uma” vida. Portanto, a coragem da verdade, pagando o preço de receber insultos e desprezo, é a chave da missão na nossa sociedade; é essa coragem que se une ao amor, à caridade pastoral, que deve ser recuperada e que torna fascinante, hoje mais do que nunca, a vocação cristã. Eu gostaria de citar o programa formulado sinteticamente em Stuttgart pelo Conselho da Igreja Evangélica em 1945: “Anunciar com mais coragem, rezar com mais confiança, crer com mais alegria, amar com mais paixão”.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011


O sim aos lefebvrianos que liquida o Concílio

Não se conhecem os detalhes do "preâmbulo" confiado à Fraternidade São Pio X dos lefebvrianos. Mas é claro que o pivô do confronto gira em torno do Concílio Vaticano II.

A opinião é de Massimo Faggioli, doutor em história da religião e professor de história do cristianismo no departamento de teologia da University of St. Thomas, emMinneapolis-St. Paul, nos EUA. O artigo foi publicado no jornal Europa, 16-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Eis o texto.

O Papa Bento XVI fez um daqueles atos que quase certamente deixarão a sua marca sobre o futuro da Igreja universal. No dia 14 de setembro de 2011, de fato, a Santa Séentregou aos lefebvrianos um "preâmbulo doutrinal": a assinatura embaixo desse documento é um passo exigido aos lefebvrianos para a entrada novamente na comunhão com Roma da sua pequena mas influente comunidade integrista.

Não se conhecem os detalhes do "preâmbulo" confiado à Fraternidade São Pio X dos lefebvrianos para um período de estudo e de consulta que deverá durar previsivelmente alguns meses.

Mas é claro que o pivô do confronto gira em torno do Concílio Vaticano II. Desde o fim do Concílio em diante, em 1965, Lefebvre e os seus acólitos construíram a identidade teológica e cultural do seu movimento integralista em torno da rejeição do Concílio, e em particular em torno da recusa dos fundamentais elementos de novidade do Magistério conciliar: ecumenismo, diálogo inter-religioso, liberdade religiosa também para os não católicos, diálogo entre Igreja e mundo.

O professor Galli della Loggia deve estar feliz, ele que, há poucos dias, lamentava o fato de que estaria de moda entre os católicos o fato de ser de esquerda: a "master narrative" dos lefebvrianos para a explicação da história contemporânea é que todas as heresias teológicas encontraram cumprimento na heresia política por excelência, a comunista, que, por sua vez, teria sido a ideologia inspiradora do herético catolicismo conciliar dos últimos 50 anos.

Com o Concílio Vaticano II, a Igreja arquivou o casamento forçado com o fascismo e o autoritarismo, e começou a aceitar uma moderna concepção de democracia e de sociedade aberta.

Com esse recente movimento de abertura do pontificado de Bento XVI aos lefebvrianos, essa passagem decisiva na história da Igreja corre o risco de se tornar uma moeda de troca usada para lidar com prelados ultrarreacionários, cuja nostalgia pelo fascismo só é igual à desfaçatez com o qual a propagandeiam.

Depois do escândalo do começo de 2009, o bispo lefebvriano e negacionista Williamson usa de mais cautela, mas outros prelados membros ou próximos do movimento continuam viajando pelo mundo celebrando, por exemplo, missas em honra ao marechal Pétain, aqeuele que fez da "França de Vichy" um disposto colaboracionista na Alemanha nazista.

Bento XVI fez esse movimento decisivo às vésperas de dois encontros importantes, como a viagem para a Alemanha da próxima semana e, no final de outubro, o encontro inter-religioso de Assis, sobre o qual os lefebvrianos jogaram, desde a primeira edição de 1986 em diante, rios de tinta e de ódio denunciando como heresia aquela intuição profética de João Paulo II.

Mas o jogo de pôquer entre Roma e os lefebvrianos já dura mais de 30 anos, e muitas são as dívidas teológicas contraídas durante o pontificado de João Paulo II e ainda não pagas. Se os lefebvrianos aceitarem o "preâmbulo doutrinal", é claro que não mudariam a sua opinião sobre o Concílio Vaticano II, considerados por eles como o esgoto de todos os erros e dos desvios doutrinais que afligiram a Igreja nos últimos 50 anos. Portanto, deve ficar claro que uma nova acolhida aos lefebvrianos na Igreja Católica contemporânea implicaria em colocar entre parênteses o valor do Concílio e a sua função como garantia do compromisso da Igreja Católica com o diálogo inter-religioso e com o judaísmo, com o reconhecimento da liberdade de consciência, com a proteção da liberdade religiosa e com o ecumenismo e a paz entre os povos.

No centro da cultura teológico-política dos lefebvrianos, estão a rejeição da democracia (dentro da Igreja, mas não só), de todas as liberdades modernas, da lição da experiência trágica da Segunda Guerra Mundial e em particular a rejeição do antissemitismo racista e do Holocausto.

A concepção dos judeus como "deicidas" é parte importante da "tradição católica" defendida pelos lefebvrianos. A política italiana e europeia se equivocaria ao tratar essa questão como um assunto interno da Igreja Católica, ou como um curioso episódio folclórico posto em cena por uma franja extrema e colorida, sem capacidade de influenciar a direção da marcha do catolicismo contemporâneo: um catolicismo que havia obtido do Concílio um importante ensinamento da trágica história do século XX.

No dia 14 de setembro de 1936, Pio XI pronunciava-se publicamente sobre a Guerra Civil Espanhola e abençoava a insurreição armada de Francisco Franco, assumindo claramente um dos dois lados e abandonando a linha de cautela mantida até esse momento.

Esse discurso de setembro de 1936 foi (como recém se descobriu graças a pesquisas no arquivo secreto do Vaticano ) um dos pontos de virada na aceitação da opção fascista por parte da cultura política do Vaticano do início do século XX: outros tempos, outras emergências. É preciso se perguntar a quais emergências responde, em setembro de 2011, a abertura vaticana aos lefebvrianos.

domingo, 18 de setembro de 2011

Irmão do Papa afirma: Novus Ordo foi um pequeno ajuste

Hoje, o livro-entrevista "Mein Bruder, o Papa" do autor Michael Hesemann chegou.Hesemann começou o trabalho na primavera durante cinco sessões com o irmão do Papa, mons. Georg Ratzinger (87).

No livro, o Prelado negou a alegação do autor Gunther Grass, voluntário da SS, ter se reunido com o Papa em seus anos mais jovens. Grass deve ter inventado isso.

Onde estão esses estudantes de hoje?

Prelado Ratzinger descreveu o amor do seu irmão com os ursos de pelúcia quando era uma criança. Ambos os meninos lutaram de vez em quando, mas sempre se reconciliavam. Sobre o tempo de seu irmão como um professor em Tubingen, Mons. Ratzinger disse que "não havia momentos decisivos".

"Foi nessa época que suas pesquisas foram um tanto esclarecidas e sistematizadas."O polêmico livro "Introdução ao Cristianismo" supostamente trouxe muitos estudantesde "fantasias irreais" para o caminho certo.

Falso Aviso de morte

Em 1953, George e Joseph Ratzinger receberam um telegrama que erroneamenteinformou a morte de seu pai. Ambos foram imediatamente em um trem paraTrauenstein. Quando eles chegaram, eles encontraram seu pai vivo, sentado na frente da casa e lustrando seus sapatos.

Liturgia rígida é o verdadeiro problema

Sobre a liturgia Mons. Ratzinger diz que o Papa deseja uma celebração digna e correta. Que é "nos dias atuais um problema real".

Há muitos padres que acreditam que eles devem adicionar as coisas e até mesmoalterá-las aqui e ali. Ele descreveu a Reforma do litúrgica pós-conciliar como "um pequeno ajuste".

O Prelado atacou a missa de sua juventude como "uma liturgia que realmente foi um pouco rígida". Ela supostamente se tornou "mais convidativa".

O prelado espera que seu irmão pode ser poupado de todos os problemas de saúde e ainda estar diante do testador celestial ", onde todos nós devemos tomar o nosso ex-améns, ao exame final."

Original em: Kreuz.net
Tradução: Blogonicvs

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Nota

Gostaria de pedir aos amigos um pouco de paciência, pois hoje minha avó faleceu.
Entrarei em contato com todos assim que possível e confio desde já nas orações dos amigos leitores deste blog pelo repouso da alma da matriarca da minha família.
Obrigado.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Primaz da TAC foi vítima de abuso do clero


O Arcebispo John Hepworth pronto para perdoar



Um arcebispo australiano liderando uma facção anglicana que deseja se reunir com Roma revelou que ele deixou o sacerdócio católico após ser vítima de abusos sexuais sistemáticos por mais de uma década.

O Arcebispo John Hepworht, primaz da Comunhão Anglicana Tradicional, um grupo anglicano com 400 mil membros que busca reconcialiação com o Vaticano, quebrou décadas de silencio depois de conseguir um pedido de perdão da Igreja e uma oferta de $75.000 de compensação.

A revelação sobre a sua dor privada, conhecida até o momento apenas pela família, por alguns amigos próximos e por líderes da Igreja, acrescenta uma virada extraordinária na criação do ordinariato anglicano que abriu o caminho para a maior conversão em massa ao catolicismo desde a Reforma.

Apesar do que ele sofreu por um período de 12 anos nas mãos de dois sacerdotes e um colega de seminário, nos anos 60m, o arcebispo Hepworth afirmou que ele estava determinado a continuar sua missão de unir as Igrejas.

"Eu fugi com medo, mas eu nunca quis sair", afirmou sobre a sua decisão de deixar a Igreja em 1974, perseguido pelo abuso enquanto seminarista e jovem sacerdote. "A Igreja está cheia de pecadores... mas ela é o dom de Deus para a humanidade através de Jesus Cristo... Nunca perdi o senso da vocação de ser um sacerdote"

(...)
Apesar da experiência, o arcebispo Hepworth foi ordenado sacerdote e permaneceu na Igreja Católica até 1972, quando ele partiu para a Grã-Bretanha onde dirigiu caminhões para a indústria química. Ele se tornou um anglicano e depois um sacerdote no clero anglicano, ascendendo até se tornar o primaz da Comunhão Anglicana Tradicional.

Numa atitude extraordinária de perdão e expiação, sua primeira preocupação, definida numa carta ao arcebispo Wilson em novembro de 2008, era que sua relação com a Igreja Católica fosse curada antes da sua morte.

"Eu não procuro retribuição", ele escreveu, mas ele sentia "profundamente enganado por uma vida sacerdotal que eu havia exercendo como se fosse um subterfúgio, fora da comunhão com a Igreja Católica"

(...)
Num pedido de desculpas ao arcebispo Hepworth datado de 26 de agosto, o arcebispo de Melbourne Denis Hart escreveu: nós não podemos mudar o passado... Você pode nunca se livrar das memórias ou da dor... Em nome da Igreja Católica e meu, Eu peço perdão a você e aos seus próximos pelos erros e pela dor que você sofreu nas mãos do Pe. Ronald Pickering".

(...)
Por todo o seu sofrimento, o arcebispo Hepworth preserva um amor pela Igreja, com a qual ele está determinado a se reconciliar numa comunhão sacramental plena.


***

A história toda, disponível em inglês no site original, é muito comovente e serve de lição. Deus apenas permite o mal se puder extrair dele um bem maior. Os terríveis atos cometidos contra o então seminarista John Hepworth permitiram que milhares de anglicanos, separados do Corpo de Cristo, pudessem retornar à comunhão com a Igreja Católica.

domingo, 4 de setembro de 2011

Culpa do Concílio

Declínio das ordens religiosas: o fim de uma grande história? 

 A Igreja não é um fóssil, mas sim uma árvore viva em que, sempre, alguns ramos secam, enquanto outros brotam e florescem. Frades e irmãs não existiram por muitos séculos. Portanto, poderiam não existir no futuro ou, pelo menos, ter sempre menos peso e influência. 

 A opinião é do jornalista e escritor italiano Vittorio Messori, publicada no jornal Corriere della Sera, 31-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Fonte: IHUnisinos. Destaques nossos

Ótimos negócios nos últimos anos, mas ainda mais nos próximos, para os agentes imobiliários romanos que lidam com "grandes edifícios de prestígio". Depois da Concordata – e ainda depois, com ritmo acelerado, no segundo pós-guerra – congregações e institutos católicos do mundo inteiro construíram em Roma as suas Casas Generalícias. Alguns também ergueram aqui seus noviciados e seminários.

Muitas vezes, não foram poupados gastos, especialmente na amplitude da área adquirida, organizada como um parque para proteger a tranquilidade e a privacidade dos religiosos. Os projetistas eram, em grande parte, do país de origem do instituto, de forma que Roma acabou hospedando uma coleção de arquitetura mundial (para melhor e para pior), embora quase sempre invisível por trás dos portões, dos muros, das árvores.

Pois bem, não só a secularização, mas também as perspectivas depois do Concílio Vaticano II, estão realizando silenciosamente aquilo que os franceses do jovem Bonaparte fizeram com a violência, quando ocuparam Roma e deportaram o papa. E, depois, os piemonteses, quando o obrigaram a se aprisionar não em Paris, mas no espaço vaticano.

 Em ambos os casos, entre as primeiras medidas dos invasores, houve a expulsão violenta de frades, monges e freiras e à colocação no mercado do seu grande patrimônio imobiliário. Patrimônio que, depois, foi reconstituído, ou melhor, multiplicado até que, tendo alcançado o ápice na metade dos anos 1960, começou um declínio imprevisto.

Muito se falou e se fala da escassez das vocações à vida sacerdotal, pensando, sobretudo, no clero secular, o das dioceses, das paróquias. Mas talvez menos se comentou, pelo menos no mundo laico, sobre o inexorável declínio numérico das inumeráveis congregações de religiosos e, de modo ainda mais acentuado, de religiosas.

Entre o século XIX e o início do século XX, surgiram centenas de famílias de irmãs de "vida ativa", que desenvolveram preciosas tarefas sociais, muitas vezes com um admirável empenho e às vezes heroico. Mas agora essas atividades são geridas (muitas vezes com custos bem maiores e com uma eficácia bem menor; mas essa é outra história...) por entidades públicas, ou então essas necessidades foram eliminados desde que os tempos mudaram.

A jovem que tenha hoje, por exemplo, a vocação ao serviço aos doentes como enfermeira, ou às crianças como professora, pensa em um contrato hospitalar do estatal, e não, como antigamente, em um noviciado de irmãs. As congregações masculinas também sentiram duramente o desaparecimento das tarefas para as quais foram fundadas.

Mas tanto entre os homens, quanto entre as mulheres, o espírito conciliar tem agido, com a redescoberta do "sacerdócio universal", com a consequente revalorização do laicato e, portanto, com a consciência de que, para ser cristão até o fim, a vida religiosa não é o caminho obrigatório.

Diante do declínio, os superiores muitas vezes reagiram de modo contrário ao que a experiência e o “sensus fidei” sugeriam: nas muitas crises da sua história, a Igreja sempre enfrentou o desafio preferindo o rigor, não o afrouxamento das rédeas. Isso não ocorreu quando a Reforma Protestante esvaziou metade dos conventos da Europa ou no século XIX, depois da tempestade revolucionária?

No pós-Vaticano II, no entanto, a reescrita de Regras e de Estatutos para adoçar a ascese e a disciplina, o emburguesamento de vidas que eram austeras, não atraíram noviços, desejosos de Absoluto, como todos os jovens, e não de compromissos com o espírito do tempo.

Não por acaso, quem melhor se manteve de pé foram os mosteiros de clausura, que continuaram propondo uma Regra exigente, conforme a Tradição. Depois do êxodo impressionante da década 1968-1978, os espaços vazios não foram preenchidos, e (embora de um modo mais ou menos acentuado, dependendo dos Institutos) o declínio continua, e a idade média aumenta.

Virão reforços generosos e abundantes, então, da Ásia e da África? Os superiores-gerais que eu interroguei, quando fiz uma longa pesquisa entre as Congregações, me confessaram que essa foi, pelo menos em parte, uma grande ilusão. Motivos muitas vezes dúbios sobre a origem da "vocação" (uma forma, como entre nós temos atrás, para escapar da miséria, para estudar, para se tornar um notável), culturas, temperamentos, histórias muitas diferentes para se identificar, a vida inteira, ao carisma de um fundador europeu muitas vezes de séculos atrás.

Em suma, as estatísticas são impiedosas, e a realidade, muito frequentemente, apresenta casas de formação transformadas em casas de repouso, que absorvem, para a assistência, muitas das energias que sobraram. Não passa um mês em que algumas escola não é fechada, algum mosteiro até histórico e ilustre não é abandonado, alguma igreja não é repassada para as dioceses, mesmo que estas também estejam em grandes dificuldades de pessoal. Enquanto isso, algumas Casas Generalícias de Roma são postas no mercado, para se retirarem para lugares menos vastos e mais econômicos.

Realidade entristecedora para um fiel? Certamente é doloroso ver o declínio de instituições que foram beneméritas e mães de tantos santos, e constatar a dor de cristãos que deram a vida a Famílias que amavam e que agora veem se extinguir.

 Mas, na perspectiva da fé, não pode haver nada verdadeiramente inquietante.

A Providência que guia a história (e ainda mais a Igreja, o próprio corpo de Cristo) sabe o que faz: "Tudo é graça", segundo as últimas palavras do pároco de aldeia de Bernanos. A Igreja não é um fóssil, mas sim uma árvore viva em que, sempre, alguns ramos secam, enquanto outros brotam e florescem.

Aqueles que conhecem a sua história sabem que, nela, a exemplo do Fundador, a morte é seguida pela ressurreição, muitas vezes em formas humanamente imprevistas. Não nos esqueçamos de que, no primeiro milênio cristão, havia apenas padres seculares e monges: todas as famílias religiosas apareceram apenas a partir do segundo milênio. Frades e irmãs não existiram por muitos séculos. Portanto, mesmo deixando uma recordação gloriosa e nostálgica, poderiam não existir no futuro (é uma hipótese extrema) ou, pelo menos, ter sempre menos peso e influência.

O que é certo é que, em todas as gerações, continuará se acendendo em muitos cristãos a necessidade de viver o Evangelho sine glossa, na sua radicalidade. Que rosto novo a vida consagrada por inteiro irá assumir para o aperfeiçoamento pessoal e para o serviço do próximo?

Bem, não temos acesso ao conhecimento do futuro. Ele é monopólio d'Aquele que, através de pobres homens, guia uma Igreja que não é nossa, mas Sua.




Franciscanas da Imaculada - Ordem que mais cresce
em vocações é a que vive a fé integral
É interessante notar como o texto está carregado de insinuações sobre o efeito negativo que o Concílio Vaticano II exerceu, de modo particular, nas ordens religiosas masculinas e femininas.

Antes de ser tendencioso, o texto deve conduzir a uma saudável crítica dos acontecimentos dos últimos 50 anos. Para tanto, que não é certamente tarefa fácil, devemos ter em conta as palavras proféticas do Papa Paulo VI:

Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia de sol para a história da Igreja. Em vez disso, veio um dia de nuvens, de tempestade, de escuridão, de busca, de incerteza (Paulo VI, Discurso de 29 de julho de 1972).

A Igreja encontrava-se em crise mesmo antes do Vaticano II. Havia um embate silencioso entre os vários teólogos que abraçavam uma nova teologia, uma nova forma de ver o catolicismo e a Igreja, centrada em Roma. Essa crise pré-Vaticano II era uma crise reservada primariamente ao clero, entre novo pensamento e o pensamento vigente e afetava silenciosamente o laicato.

Para quem acompanha a história da Igreja desde a Reforma, passando por Trento, a Revolução Francesa, com sua resposta no Vaticano I e a crise modernista e o Vaticano II pode ter claramente que houve uma espécie de infecção teológica na Igreja. Essa infecção contaminou primeiro alguns membros, espalhou-se pelos seminários, atingiu o clero e agora chega aos leigos.

O texto fala do declínio das ordens religiosas através, grande parte, da “redescoberta do "sacerdócio universal", com a consequente revalorização do laicato e, portanto, com a consciência de que, para ser cristão até o fim, a vida religiosa não é o caminho obrigatório”.

A noção do sacerdócio universal, embora sempre presente na Igreja, foi exagerada durante o Vaticano II e, sem dúvida e principalmente, durante o pós-concílio. Então a chave para a leitura da crise religiosa está não na identidade do religioso – como costumeiramente pensam os analistas da crise vocacional – , mas sim na função do leigo e no exercício do seu “sacerdócio universal”.

Nos últimos anos, seguindo a agenda da nova teologia, a valorização do leigo seguiu a uma desvalorização do religioso. Muitas ordens, tentando sobreviver, procuraram deixar os mosteiros e conventos, tomando parte ativa na vida social, relaxando a disciplina monástica e religiosa como forma de competir com a “concorrência” dos leigos. O resultado disso são as freiras sem hábito, os monges sem breviário.

Hábito - A Nova Geração é atraída por ele
Contudo, “a reescrita de Regras e de Estatutos para adoçar a ascese e a disciplina, o emburguesamento de vidas que eram austeras, não atraíram noviços, desejosos de Absoluto, como todos os jovens, e não de compromissos com o espírito do tempo”.

De fato hoje as congregações que mais crescem – e são poucas – são aquelas preocupadas em dar aos seus membros o verdadeiro Espirito religioso e não o do tempo. As constatações do autor são confirmadas por um estudo encomendado pelos atônitos religiosos norte-americanos. Nele:

(...)revela que a geração envelhecida e predominantemente branca está sendo substituída por um grupo menor, étnica e racialmente diversificado, de recrutas que são atraídos às ordens religiosas que praticam ritos tradicionais e usam hábitos.
O estudo descobriu que o envelhecimento das freiras e padres americanos foi mais profundo do que muitos católicos pensavam. 91% das freiras e 75% dos padres estão com idade acima de 60 anos e a maioria restante beira os 50.
Eles são a geração definida pelo Concílio Vaticano II, da década de 60, que modernizou a Igreja e muitas ordens religiosas. Muitas freiras desistiram dos seus hábitos, deixaram o claustro, conseguiram um diploma de ensino superior e começaram a trabalhar em profissões diversas e no serviço comunitário. O estudo confirma que há muito se suspeitava: que estas ordens religiosas mais modernas estão atraindo cada vez menos membros.

Tanto o estudo quanto o artigo publicado agora não isentam o Concílio Vaticano II da sua culpa pela secularização da vida religiosa. Entretanto, se convergem na crítica e na raiz do problema, convergem também na solução.

Eles são mais atraídos ao estilo de vida
religioso tradicional. Foto de ordenação da FSSP
Eles são mais atraídos ao estilo de vida religioso tradicional, onde há comunidade, oração comum, a missa coletiva, rezando-se a liturgia das horas em grupo. Eles estão inclinados a dizer que a fidelidade à Igreja é importante para eles. E eles realmente estão procurando comunidades onde os membros usam hábitos” .

Onde o sacerdócio de todos os batizados é entendido na sua real dimensão, como um dom que necessita imprescindivelmente do sacerdócio ministerial e sacramental para encontrar sentido dentro de uma Igreja que é Corpo de Cristo, então somente ai as vocações religiosas podem encontrar seu sentido de ser.

A vocação religiosa não é uma vocação leiga de uma forma diferente ou alternativa, mas é a vocação cristã mais radical, vivida na Paixão de Nosso Senhor – vida, morte e ressurreição. Uma não inferioriza a outra.
Embora as famílias religosas tenham perdido boa parte do seu campo de atuação social (hospitais, escolas, asilos, orfanatos, etc) há certamente novos campos que precisam ser semeados pela Fé imutável da Igreja.

De fato, a dedicação quase exclusiva dos religiosos em campos sociais pode ter contribuído de alguma forma para a crise em que se encontram hoje. O campo da fé – terreno especial dos religiosos – está coberto de joio e ervas daninha e aguarda o retorno dos seus trabalhadores.

Talvez também o Vaticano II guarde em si a chave para o reflorescimento das ordens. O retorno ao carisma original é a única forma de recuperar e revitalizar as inúmeras famílias religiosas. Retornar ao mais elementar do seu carisma, como desejou o Vaticano II, mas de uma forma corajosa, vivendo na radicalidade a regra e a disciplina, diferente do que foi feito ambiguamente pelo Vaticano II.
Depois de todo inverno, há sempre uma verdadeira primavera!

sábado, 3 de setembro de 2011

Cisma na Áustria - uma possibilidade

Abades austríacos temem cisma na Igreja 

Abades austríacos altamente influentes disseram nesta semana que os boatos de um cisma na Igreja austríaca não poderão ser apaziguados, e o atual conflito também não poderá ser resolvido, por meio de um encontro entre o arcebispo de Viena, o cardeal Christoph Schönborn, e os representantes dos padres dissidentes.


Fonte: Unisinos

A Igreja tem estado em crise desde que mais de 300 sacerdotes liderados pelo Mons. Helmut Schüller (foto) convocaram para a desobediência em questões como o celibato sacerdotal e a Comunhão para divorciados de segunda união. Depois de ter dito aos membros da Iniciativa dos Párocos Austríacos, no dia 10 de agosto, que ele não poderia permitir que o seu apelo ficasse como estava e que eles deveriam voltar atrás ou deixar a Igreja, o cardeal Schönborn deu um tempo para que os sacerdotes "refletam" antes de uma segunda reunião, a portas fechadas, prevista para o dia 10 de setembro.

 Mas os abades e os prepósitos austríacos disseram que as posições estão agora tão endurecidas que uma segunda rodada de conversações possivelmente não poderá resolver os problemas. Existem cerca de 40 abades e prepósitos na Áustria, e a metade de todas as paróquias têm padres de ordens religiosas como párocos.

O persidente da Conferência dos Superiores Religiosos da Áustria, o abade Maximilian Fürnsinn, da Abadia de Herzogenburg, disse que um encontro da cúpula da Igreja é necessário, já que certas reformas defendidas pela Iniciativa dos Párocos, como a permissão de que homens mais velhos e casados celebrem missa, podem ser aceitas e são, pelo menos, dignas de discussão. O abade Martin Felhofer, da Abadia de Schlagl, disse: "Isso já não pode mais ser resolvido pelo cardeal [Schönborn] sozinho. Todos – bispos, abades, religiosos e representantes da Iniciativa dos Párocos Austríacos – devem se sentar e discutir os problemas juntos".

 Enquanto o cardeal Schönborn estava em Madri para a Jornada Mundial da Juventude – onde aparentemente seus colegas bispos lhe questionaram repetidamente sobre a Iniciativa dos Párocos – e posteriormente em Roma para o encontro Schülerkreis deste ano, a iniciativa continuou atraindo manchetes quase diariamente na mídia austríaca.

 Quatro padres deixaram a Iniciativa, mas 86 se juntaram à causa, de modo que agora ela soma 400 padres – aproximadamente um em cada 10 – e 12 mil apoiadores ativos. Em suas muitas entrevistas à imprensa nas últimas três semanas, Mons. Schüller confirmou ter recebido apoio de todo o mundo, em particular do Brasil, dos EUA, da Irlanda, da França, da Alemanha, da Itália e do México.

 As reações internacionais mostraram que o Vaticano estava "obviamente" diante de problemas em todo o mundo e que "as nossas preocupações certamente não são questões à la Mickey Mouse", disse Mons. Schüller no dia 25 de agosto. Ele admitiu que a Iniciativa também havia sido alvo de diversas críticas muito duras. "Alguns querem nos expulsar da Igreja Católica completamente e chegaram até mesmo a nos amaldiçoar. Eles nos chamam de cismáticos e rebeldes que estão destruindo a Igreja", disse ele à revista semanal News. O cardeal Schönborn retornou a Viena no dia 29 de agosto, e fontes próximas a ele dizem que ele está extremamente preocupado. Há rumores de que ele tem poucas alternativas a não ser suspender os líderes rebeldes, mas há temores de que isso possa levar a um cisma, já que a última pesquisa (do Instituto Oekonsult, encomendada pela Austrian Press Agency) aponta que 76,5% dos austríacos apoiam a Iniciativa.

Dom Egon Kapellari, bispo de Graz, número dois da Conferência dos Bispos da Áustria, disse à revista Profil, na ausência do cardeal Schönborn, que questões como o celibato sacerdotal obrigatório ou a ordenação feminina, que a Iniciativa dos Párocos gostaria de discutir, eram "tarefas que se apresentam diante de nós e que temos que controlar no longo prazo, mas que não podem ser adequadamente respondidas no curto prazo".

***
Cardeal Schönborn
Só um milagre salva o episcopado do protegido de Bento XVI

Um desastre e mais um escândalo na administração Schönborn. De fato, hoje é possível ter a nítida dimensão do estrago que nomeá-lo bispo e, principalmente, cria-lo cardeal produziu na Igreja da Áustria. E pensar que ele também foi considerado um forte papabile no conclave de 2005.

O estrago é tão grande que alcançou dimensões internacionais e obrigará, evidentemente, o Vaticano a interferir.

A Igreja na Áustria tem um histórico não muito agradável de desobediência. Nos últimos 100 anos ela vem sendo celeiro de teólogos progressistas que, quase sempre, gozavam da proteção do episcopado ou de altas autoridades eclesiásticas.

Mas voltando a revolta dos padres, é claro que se não for resolvida agora, poderá espalhar-se por toda a Áustria e alem. O Vaticano precisará ser menos diplomático e mais incisivo na sua ação e, sem dúvida, não deverá permitir que Schonborn seja parte de uma equipe de conversa.

O tempo de tolerância com o desastroso cardeal é chegado ao fim. Certamente há, no Vaticano, um dicastério sem grande importância e onde a presença do cardeal se faz adequada e incapaz de causar mais danos a Igreja.
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