domingo, 17 de julho de 2011

Boff é aplaudido...

... na PUC-Minas!

O acontecimento

Aplaudido, Boff critica os últimos papas

O professor e teólogo Leonardo Boff eletrizou o auditório do 24.º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter), realizado, na semana passada, em Belo Horizonte, ao relembrar a história da Teologia da Libertação, em uma palestra sobre os 40 anos de atuação do movimento de esquerda que revolucionou a Igreja Católica no Brasil e na América Latina.

A reportagem é de José Maria Mayrink e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 17-07-2011.

Os 360 participantes aplaudiram de pé quando Boff e seu colega, padre João Batista Libânio, afirmaram que a Teologia da Libertação continua viva e presente nos movimentos sociais, apesar de ter sido "incompreendida, difamada, perseguida e condenada pelos poderes deste mundo", civis e eclesiásticos.

A prova, segundo Boff, são o Partido dos Trabalhadores, o Movimento dos Sem-Terra, o Conselho Indigenista Missionário, a Comissão Pastoral da Terra e outras pastorais.

"Nunca, na história do cristianismo, os pobres ganharam tanta centralidade", disse o ex-frade franciscano, que abandonou o convento e o ministério sacerdotal, mas não perdeu a fé[???] nem deixou de ser teólogo, após ter sido punido pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger, atualmente papa Bento XVI, após a publicação do livro Igreja, Carisma e Poder, de 1981.

Boff afirmou que João Paulo II e Bento XVI tentaram barrar a Teologia da Libertação. "Ratzinger entrará na história como inimigo dos pobres", disse. "A teologia se inspira no Cristo libertador e não no marxismo, que já morreu", advertiu. "Marx não foi pai nem padrinho da Teologia da Libertação."

***

Começando de baixo pra cima, o último argumento usado pelo Sr. Genésio Boff para tentar "purificar" a Teologia da Libertação e desvincula-la de um sistema falido é contraditório com uma antiga afirmação do próprio Genésio (ainda Leonardo) num passado não tão distante:

"O que propomos não é Teologia dentro do marxismo, mas marxismo dentro da Teologia". (Jornal do Brasil, em 6 de Abril de 1980).

Bom, eu sei que esperar honestidade intelectual do Sr. Genésio é esperar demais! Mas pelo menos um pouco de coerência, quem sabe? Nem isso.

Bento XVI, inimigo dos pobres? Essa mentalidade absurda de quem está à direito é inimigo dos pobres e quem está à esquerda é companheiro de luta é tola, estúpida e completamente separada da realidade. Como já escrevi num post anterior, sobre esse tema, os ditos conservadores - e ai tomo a liberdade de inserir o Papa neste grupo - são muito mais preocupados com os pobres que os progressistas.

O que exatamente fez o Sr. Genésio pelos pobres? Uma obra concreta pelos pobres patrocinada, de alguma forma, pelo patriarca da libertação, alguém consegue citar? Ninguém.

Enquanto Bento XVI se solidariza com o povo Roma (ciganos), envia doações aos flagelados pela tsunami japonesa, pelo terremoto na Nova Zelândia, pede ajuda ao povo esquecido da Somália, apela ao mundo pelos cristãos da palestina, etc, etc, etc, que faz Boff? Faz conferência, é claro! Encontros "eletrizantes"! No conforto do ar-condicionado, da água mineral (importada?) sobre a mesa, num auditório ricamente construído. Quem é inimigo dos pobres?

Outro ponto interessante dessa matéria é a ligação, por alguns anos negada ou pelo menos disfarçada, do PT e os libertadores. É preciso gozar de apenas um único neurônio para deduzir que PT e TL andam juntos. Se a pessoa tiver dois neurônios conseguirá estender essa parceria para a educação, através do freirismo (de Paulo Freire) ignóbil que afeta a mentalidade pedagógica de todos os docentes desta terra.

O congresso SOTER não se deu num salão de hotel, muito menos num estádio municipal. Veja o que está escrito no site oficial:

O 24º Congresso Anual da SOTER terá como tema Religião e Educação para a Cidadania, e ocorrerá entre os dias 11 e 14 de julho de 2011, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), em Belo Horizonte - MG. Evento tradicional da área, com reconhecimento nacional e internacional, recebeu da Capes, em 2008, a avaliação Qualis “A”. Prova dessa repercussão são a tradução para o espanhol de alguns Anais de nossos Congressos e a constante presença de um membro da Diretoria nacional da SOTER na vice-presidência da INSeCT (“Rede Internacional de Sociedades Católicas de Teologia”, com sede jurídica na Alemanha). Visto que todo ano há um aumento de participantes, a expectativa de presença para 2011 é de 250 sócios, além de cerca de 250 pesquisadores da área, num total de 500 participantes. Dando prosseguimento às discussões dos congressos anteriores, cuja preocupação tem sido o papel das religiões nos distintos aspectos de nossa sociedade, o congresso deste ano pretende mostrar a relação entre Religião, Educação e Cidadania, numa abordagem multidisciplinar, tão necessária hoje para a teologia e as ciências da religião.
A Diretoria e a Comissão Organizadora prepararam para 2011 uma série de Conferências, de Mesas Redondas e de Grupos Temáticos que propiciarão a partilha e a discussão do tema central do congresso, bem como das pesquisas que a teologia e as ciências da religião têm feito atualmente em nosso país.

A PUC hospedou esse tipo de excrecência! Surpreendente, não é mesmo? Na verdade, não!
A PUC (qualquer PUC) há anos perdeu qualquer ligação com a doutrina católica que, por ser uma universidade pontifícia, deveria guiar sua essência, seu ethos acadêmico.

Como um dos alunos de teologia (TEOLOGIA!!!) da PUC (Campinas) teve a oportunidade de esclarecer recentemente, a PUC  "é uma academia, lugar de reflexão e debate, não curso pra ministros ou catequistas.. a Santa Sé num interfere pq entende isso e tem maturidade pra lidar com o diferente, ao contrário de pessoas que se sentem donas da Tradição e do Magistério, que fazem do Papa um instrumento nas suas mãos".

Acima da reflexão e do debate, que são naturais em qualquer estabelecimento de ensino superior, há, no caso da PUC, a doutrina católica. A PUC é uma academia da Igreja e, se não consegue nem formar pessoas com o mínimo de conhecimento da doutrina católica, então sua missão acabou.

Se você for a uma universidade luterana (a ULBRA, por exemplo), jamais ouvirá um único docente criticar Lutero. Na Mackenzie, idem. As Universidades Metodistas, mesmo sendo muito leves na sua identidade confessional, defendem com unhas e dentes John Wesley. Já a PUC... críticas ao Papado, à doutrina moral e dogmática. Triste.

Na PUC-Rio, por exemplo, há uma professora que, repetidamente, afirma a teologia feminista, defende a ordenação de mulheres e outras coisinhas mais.

A PUC brasileira é um desastre, não sendo nada mais que uma universidade laica, sem qualquer espírito católico. Mas certamente as benesses do ser "pontifícia" agradam aos seus reitores e professores.

Eu diria que algumas universidades e faculdades protestantes possuem, hoje, um curso de teologia mais católico que a PUC. Inclusive em algumas universidades federais é possível ter uma capelania católica mais presente que em toda a PUC. Desastre.

Voltando ao encontro do SOTER, vejam que tipo de programação foi sediada na PUC-Minas (destaco só alguns):

Dia 11/7
19h30 - Abertura oficial do 24º Congresso com a presença de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Grão-Chanceler da PUC-Minas e Dom Joaquim Mol, Magnífico Reitor da PUC Minas.

Dia 12/7
8h30 - Auditório 3: Abertura da Sessão – Homenagem a José Comblin e Bernardino Leers (In Memoriam)
Mesa 2: Auditório 2 (Prédio 4): Religião e Gênero: Maria Pilar de Aquino ((University of San Diego, Department of Theology – USA) e Sandra Duarte de Souza (Universidade Metodista de São Paulo – UMESP)
20 às 21h30 - Auditório 3: Sessão Comemorativa dos 40 anos da Teologia da Libertação: 40 anos de Teologia da Libertação: fazendo memória e olhando para o futuro - Prof. Dr. Leonardo Boff

A presença do senhor Arcebispo diz tudo. Ratifica tudo. Dom Walmor, que já perdeu há tempos o controle sobre a sua arquidiocese, ex-presidente da Doutrina da Fé da CNBB se faz presente num evento que, sabidamente, serve para dar sobrevida ao funesto "marxismo dentro da Teologia".

Como justificar (é possível?) a presença de Dom Walmor e de Dom Joaquim num evento onde (1) a doutrina católica é achincalhada e (2) o Papa, a quem os dois bispos juram fidelidade, é chamado de "inimigo dos pobres"?

Pelo conteúdo das palestras podemos afirmar que foi dito um pouco de tudo o que a Igreja, nos últimos 40 anos, se esforçou em condenar como erros gravíssimos de fé. E os dois prelados ali...

Eletrizante, certamente! Chocante, mas não surpreendente. Que esperar do futuro?

3 comentários:

Anônimo disse...

Excelentes ponderações diante de tão escandalosos fatos.

Bruno Luís Santana disse...

Onde não há contaminação entre as instituições da Igreja, alguém pode me dizer?
Onde na Igreja o erro está totalmente separado da verdade?
Onde na Igreja não há nenhum laço, nenhum acordo, nenhuma amarra que prenda os católicos a essa criatura cheia de tentáculos?
Vou dizer isso, e soará muito fanático de minha parte, muito fundamentalista, muito exclusivista... Mas muito verdadeiro:
a FSSPX.
Para onde correr? Para padres de boa intenção que estão à mercê de bispos modernistas? Ou para grupos que tentam salvar tudo: doutrina, liturgia, boas graças com o episcopado, com o direito canônico...

Matheus Cajaíba disse...

A presença de Dom Joaquim neste "maravilhoso" evento é fácil de entender. Ele, como reitor da PUC, é um dos responsáveis pelo curso de promoção do homossexualismo promovido pela... PUC Minas! Veja: http://www.jornadacrista.org/?p=1282. Um abraço e parabéns pelo post.

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