quinta-feira, 3 de março de 2011

John Galliano x Dom Richard Williamson

Você, leitor deste blog, certamente não conhece ou sabe quem é John Galliano, correto?
Pois bem, esse nome está circulando de vez em quando na mídia recentemente por conta de um certo escandalo que teve um precedente na Igreja católica, mas bem diferente.
Para que você entenda do que se trata é preciso começar pelo começo. Primeiro, quem é, afinal de contas, John Galliano?
Estilista. Não um estilista qualquer, um costureiro de esquina, mas o diretor criativo da maison Dior, uma das 5 top brands (grandes marcas) do mundo. Com certeza você já ouviu, pelo menos uma vez na vida, o nome Dior, junto com outros como Chanel, Louis Vuitton, Yves Saint Laurent, Armani, etc.
Para que você entenda a influência de Galliano num mundo que movimenta, por baixo, 300 bilhões de US$, não é injusto dizer que Galliano está para a costura como Picasso esteve para a pintura. Chefe da Dior, dono de uma linha própria que levava seu nome, JG tinha tudo para ser canonizado pelo mundo da Haute Couture e ocupar um lugarzinho ao lado de nomes lendários como Balenciaga, Hubert de Givenchy, Coco Chanel e o próprio Christian Dior. Contudo o pobre menino de Gibraltar caiu em desgraça.
Flagrado num bar de uma região de Paris agitada por judeus e homossexuais, JG repete em alto e em bom som que "Ama Hitler". O vídeo chocou a todos que admiravam, de alguma forma, a obra criativa de Galliano. Ninguém esperava que o então reservado artista pudesse proferir algo desse porte.
E aqui vem o paralelo que quero traçar. Mas primeiro assista a esse vídeo.



Não posso deixar de notar uma semelhança, até certo ponto, com o caso de dom Richard Williamson, bispo da FSSPX. Dom Williamson nunca disse "Eu amo Hitler", jamais tentou justificar o massacre criminoso e hediondo do regime nazista. Ele apenas emitiu, como vocês se lembram, uma opinião de caráter histórico. Ele discordava dos números oficiais de mortos em câmaras de gás, mas jamais afirmou que o "Holocausto" nunca tivesse existido.
E como foi a reação do mundo a entrevista de Dom Williamson? Vocês se lembram. O bispo foi avacalhado, ameaçado, humilhado e demonizado.
E com Galliano? Ele precisa ser compreendido, acolhido, afinal ele só falou uma besteira, não é mesmo? "Eu amo Hitler" não é nada quando é dito pela boca de um artista...
Ok, Galliano foi demitido da Dior e provavelmente sua carreira acabou, mas se pesarmos as reações do mundo nos dois casos e a gravidade das declarações também em cada caso, veremos que há uma distância enorme de tratamento, inversamente proporcional a gravidade do declaração.
Richard Williamson é só um intolerante filo-nazista. Galliano é um pobre coitado pego num mau momento. Interessante, não é mesmo? [ironia]
Quanto tempo a TV do mundo não perdeu para divulgar o "bispo negacionista" e quantas matérias vocês, leigos no assunto das Maisons de Haute Couture, leram sobre Galliano? Todo dia, por duas semanas, tinha alguma coisa sobre Dom Williamson no Jornal Nacional. Sobre Galliano, contudo, apenas uma nota rápida de menos de trinta segundos. Menos de trinta segundos para um claro "Eu amo Hitler"! É incrível como há um alvo claro pintado na testa da Igreja.
Galliano é um gênio e sua posição política pessoal não muda isso. "Ah, mas ele é gay! Onde você está com a cabeça em dizer que ele é um gênio??? Você vai para o inferno, ou pior, para a Líbia!" diriam alguns leitores escandalizados. Bom, Mozart era maçom e isso não diminuiu sua obra. Tantos outros grandes nomes da pintura, escultura, matemática, fotografia, etc, tinham vidas particulares muito reprováveis e obras belíssimas. Como é possível conciliar a genialidade e a beleza com uma vida um tanto "peculiar", para não dizer reprovável, é um mistério para mim.
Galliano era um dos poucos estilistas que jamais apelava para modelos semi-nuas e sexualidade nas suas criações. Diferente, por exemplo, de Tom Ford que, como diretor da Gucci, precisou tatuar o G da empresa no pelo pubiano de uma modelo para relançar a marca, ou Marc Jacobs (Louis Vuitton) que frequentemente posa pelado nas campanhas da marca. Galliano confiava no "taco do bom gosto". Para alguém desse mundo comandado pelo erotismo, John Galliano era praticamente um monge.





Enfim.
Não posso desconsiderar que o estilista estava bêbado, embora isso não diminua um milimetro a gravidade das suas palavras. Mas eu ainda estou chocado com essa reação tão benevolente com o ex-diretor da Dior. Só me deixa pensar o quão grade é o poder do dinheiro.

2 comentários:

João Batista Cibo disse...

Cuidado!
Dom Richard Willianson é um bispo da Igreja validamente ordenado, por isso verdadeiro sucessor dos apóstolos. Não fale mal dele. Não cabe a você julga-lo e muito menos acusá-lo de ser um intolerante filo-nazista. Acusar um bispo é algo extremanente grave. Não cabe a nós leigos fazê-lo.

Danilo disse...

Pedro
Quando eu escrevi isso, eu estava sendo irônico. Estava expressando apenas a visão do mundo em relação aos dois envolvidos. É precisamente sobre isso que se trata a postagem, como a mera opinião de Dom Williamson o tornou muito pior que Galliano (que disse que ama Hitler) só porque ele é justamente um bispo católico.
Não se preocupe.

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