quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Nova série: The Borgias


Se teve uma série de TV que eu realmente gostei, essa séria foi The Tudors. A apresentação da séria, da perspectiva técnica, foi impecável e a sua qualidade magnífica.

The Tudors, baseado na época da reforma protestante inglesa, revela personagens apaixonados, para o bem e para o mal, e conflitos emocionantes. É claro que a série não foi um documentário, por isso não espere 100% de precisão histórica no roteiro.

O que me fascinou na montagem de The Tudors foi uma coerência positiva com a história real. Mesmo não sendo completamente fiel aos acontecimentos, como já avisei acima, a série captou o clima da época. O impressionante, entretanto, é a sua simpatia com o catolicismo.

Diferentemente do que acontece em filmes ou shows sobre o terrível período da reforma protestante, The Tudors foi bem fiel ao sentimento inglês da época e mostrou um Henrique VIII que dificilmente seria representado em filmes do tipo Elizabeth (I e II) ou Lutero. Nestes últimos, a Igreja Católica é mostrada como uma dominadora sanguinária e seus padres e bispos como corruptos exploradores do povo ignorante.

Nenhuma série ou filme sobre a reforma inglesa, acredito, mostrou o levante da "Peregrinação da Graça" contra a dissolução dos monastérios. E nessa questão a série é magnífica ao mostrar o real motivo do assalto de Henrique VIII aos monastérios e abadias católicas: ganância. Não havia, no povo inglês, qualquer sentimento de repulsa contra os padres-monges católicos e a peregrinação mostra justamente o contrário, mostra um povo apaixonado pela sua fé.

A sinistra figura de Thomas Cromwell emerge como um verdadeiro fanático. Sua execução é mostrada como um alívio para o povo, que não demonstra qualquer comoção, bem diferente das lágrimas derramadas quando o carrasco corta a cabeça de Thomas More e do cardeal John Fisher, os únicos que se atreveram a manter a unidade com a Santa Sé e questionaram a tentativa de anular o casamento com Catarina de Aragão

O mérito de The Tudors foi mostrar os motivos mesquinhos e libidinosos que motivaram a reforma inglesa e o cisma. Henrique VIII, brilhantemente interpretado, é um torturador de esposas, um romântico inconseqüente e um político de temperamento imprevisível. Catarina de Aragão, a primeira esposa/vítima, é mostrada com a palidez de uma santa, sofrendo por toda a primeira temporada sem nunca abjurar a sua fé. Ana Bolena, a amante, aparece ao telespectador como uma interesseira e gananciosa prostituta.

Posso dizer que The Tudors é a muito católico (até a 3ª temporada, ainda não assisti a 4ª e última...). Até mesmo o Papa, interpretado por Peter O'toole, é encarado sem os tradicionais preconceitos. Lembro de uma frase do Papa "O'toole" na 2ª temporada da série: O imperador tem navios e exércitos e o que temos nós além da beleza e da verdade?.
Contudo...

Jeremy Irons será o Papa Alexandre VI
em nova série da ShowTime
A nova empreitada da ShowTime, produtora de The Tudors, parece ir numa linha um pouco diferente. Agora são os Borgia que figurarão como personagens principais de uma nova série que, sinceramente, promete ser bem menos católica, mesmo se tratando da vida de um Papa. A vida do Papa Alexandre VI, um pontífice no mínimo controverso, seria mostrada com toda a licença que se viu em The Tudors e um pouco mais.
Espero que, pelo menos, a qualidade técnica seja tão boa quanto em The Tudors.

2 comentários:

Bruno Luís Santana disse...

Realmente, no que se refere à exatidão histórica, podemos aposentar The Tudors... Não que a série seja um redondo fracasso, mas decididamente, já me cansei de esperar que cinema e exatidão histórica fizessem as pazes... E isso me tortura, porque quanto mais exata for a história, melhor se visualiza a verdade dos fatos, e mais útil se torna o trabalho, que passaria a ser algo até mesmo didático, ao invés de simples entretenimento...
Um exemplo? A irmã de Henry VIII. Henry tinha duas irmãs, Mary e Margareth. O filme juntou em uma pessoa as duas princesas.
Mary casou-se com Luís XII de França, que era velho e morreu três meses depois do casamento. Então subiu ao trono o rei Francisco I, que a primeira temporada registra junto a Henry VIII...
Quanto à viúva Mary, só depois desposou Charles Brandon, o duque de Suffolk.
Aquele episódio da princesa e do rei português (e seus desdobramentos: ela chega a matá-lo!) simplesmente NUNCA EXISITIRAM.
Quanto a Margareth, irmã mais velha de Henry, esta casou-se com James IV da Escócia, e foi avó de Mary Stuart, que foi decapitada no reinado de Elisabeth (o carrasco errou a mão e precisou bater por três vezes o machado para conseguir separar do corpo a cabeça mutilada)...
Erraram o nome do papa também. O papa anterior a Clemente VII não foi Alexandre, mas Leão X. E o cardeais seguintes não foram Orsinis, mas foi Adriano de Utrecht (Adriano VI) e um Médici (Clemente VII)...
O cardeal Wolsey também NÃO SE MATOU. E ele não morreu simultaneamente à irmã do rei, mas três anos depois da mesma...

Podem parecer apenas migalhas que não comprometem o desfecho dos acontecimentos... Mas se um filme como este, com a mão leve em criticar a Igreja, é capaz de tantos enganos, segure-se firme na poltrona, porque o esperado é que Os Bórgias sejam um seriado francamente sensacionalista... O normal é que irão explorar todos os séculos de exageros e difamações das propagandas protestantes, anti-romanas, iluministas, de Maquiavel a Victor Hugo (como se os Borgias - que na verdade são "Borjes", visto terem sido espanhóis - precisassem de exageros e difamações...)
Os Borgias são unanimemente deplorados em quaisquer meios, católicos ou não. Mas a próxima série será mais uma oportunidade para se bater no liquidificador o procedimento de homens corruptos + igreja = massificação, onde trigo e joio viram uma farinha só.

Bruno Luís Santana disse...

Em tempo: já que falei em cinema x igreja, vale ressaltar que até a década de 70 ainda haviam trabalhos impecáveis, ou ao menos que respeitavam os católicos.
Sugiro efusivamente o filme "O homem que não vendeu sua alma", que pode ser baixado facilmente neste blog abaixo:

http://www.filmesepicos.com/search?ie=UTF-8&q=O+homem+que+n%C3%A3o+vendeu+sua+alma&sa=Buscar

Este é um filme que para mim é praticamente imaculado, tanto no que se refere aos diálogos (excelentes), como na exatidão de suas declarações. Já li em livros de História da Igreja citações de São Thomas More exatamente idênticas às do filme.

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